Ontem, quando a caminho de Coja, pude observar no rio, em local onde existe um açude, uma mancha extensa de espuma, que nos leva à quase certeza de poluição.
Depois, já em Coja, à conversa com um amigo, recordámos tempos em que o rio era bem uma imagem imaculada, sendo mesmo o orgulho das gentes dos povoados ribeirinhos ao Alva.
Água limpas, onde nos tranquilamente nos banhávamos, cortadas estrategicamente, aqui e além, por caneiros ou açudes e receptivas, em aconchegados lugares, às lavadeiras que carregavam o rol de roupa que o rio logo purificava às primeiras lavadelas e que, depois de corada, ganhava aromas inigualáveis, sem azo a arremedos pelas mais elaboradas fragrâncias deste mundo.
E a piscicultura do nosso Alva? Farta e de encher o olho, com bogas, barbos e até enguias, estas a serpentear sob calhaus das margens do rio.
A propósito dos peixes do Alva, veio-me à lembrança, na prosa com esse amigo, um episódio que protagonizei com o tão sempre recordado Padre Januário.
Uma tarde de Verão, já então espigadote, decidi-me a experimentar a arte de pescar, pelo que me aproveitei de uma ida, para esse fim, à zona do Porto de Avô do Sr. Prior.
Recebi as devidas instruções desse grande e afamado mestre das pescarias que era o Padre Januário.
Pois bem caros amigos. Ali estivemos algumas horas, cada um com a sua paciência, com engodos iguais, na expectativa de peixe que fosse nas artimanhas. Mas, vejam só isto. Enquanto o Prior atraiu abundante pescaria, a mim nem um só peixe bicou o anzol.
Perante tão incrédulo sucedimento até era levado a crer, não fosse o meu parceiro padre, que ali havia ou bruxedo ou obra do diabo. Mas contive-me de tais pecaminosos pensamentos. O que não me impediu, contudo de arremessar este comentário:
“Estou em crer que o Sr. Prior, antes de uma pescaria, abençoa o anzol…”
“Nem preciso rapaz”, respondeu-me de imediato o Padre Januário. “O peixe já vem atraído pela minha natural santidade…”
Nuno Espinal