Chamavam-lhe “Zé Merendas” e por Vila Cova, sua terra natal, se ficou nos últimos anos de vida. O porquê da alcunha não sei. Mas, conhecendo como conheci o “Zé Merendas”, sou levado a crer que o epíteto não andaria longe do seu afã em patuscadas, passadas numa curtida galhofa com amigos.
Teve um percurso de vida sem certezas, deitando mão ao que lhe pudesse garantir uns cobres ao fim do mês, fosse onde fosse.
Foi assim que um dia o vou topar no Estoril, em pleno Verão, já lá vão mais de quarenta anos, junto à zona de praia, com um estendal de artigos muito variados e próprios da época e do local. Chapéus, bonés, óculos de lentes plásticas de sol, baldes de criança e outros brinquedos, pentes e outras coisas mais, tudo para venda.
Integrado num grupo de amigos, decidi, antes de me chegar ao Zé para o cumprimentar, participar na escolha do local onde, na praia, iríamos abancar.
Demorei uns quinze minutos. Lá fui depois para dar um abraço ao Zé. Mas, lá chegado qual Zé qual quê. Permanecia o estendal de artigos e, como logo percebi, solidariamente supervisionados por um outro vendedor, em precaução à cobiça de amigos do alheio.
Indaguei e obtive a resposta:
-Esse amigo foi comer uma bucha, está na hora dele, ainda demora…
E nem precisava de ter perguntado. É que o Zé, bem precavido, tinha deixado uma grande tira de cartão, junto aos seus artigos de venda, com o seguinte dizer: “FECHADO PARA ALMOÇO”.
Sempre o mesmo “Zé Merendas”, grande castiço!…
Nuno Espinal