A foto é recente, de um tempo presente. Mas, os tons diversificados de cor, na estampa registados, transmudei-os para “preto e branco”.
Os tempos de hoje maquilhados de passado. Porque o “preto e branco” nas fotos remete-nos para o passado. Mais do que uma convenção (tanto que o cinema a usa) é um estado de evocação do passado, das imagens fotográficas que, então, eram estampadas a preto e branco.
Há dias encontrei a Dª Albertina Gomes, com o seu doce sorriso, de mais de 95 anos.
Viajou no tempo, ancorou no passado, de 50, 60 e mais anos. Entrámos no reino da saudade.
-Sabe? Naquele tempo parece que havia mais alegria, éramos todos mais amigos…
Eis o travo amargo e doce da saudade…
-À noite, já na cama, antes de adormecer, revejo aquela gente toda. Quase todos falecidos. Faz-me tão bem recordá-los!
Eis o aconchego da saudade, por vezes algo triste, mas mais que triste, de conforto e exultação.
-Lembro-me dos seus avós, de sua mãe, a Laidinha, até me rio de me lembrar do rir que tinha…
Quanto me deleito nesta saudade. Não de ausência, mas de presença. Esta é a saudade que elejo. Uma saudade de amor, de coloridos afetos, mesmo que a pintalguemos a preto e branco.
A saudade do sonho…
Nuno Espinal