Era sobrinho do Dr. Vasco Ramos e, por esse vínculo, se ligou a Vila Cova, ao rio e comigo e com a minha família travou uma sólida amizade que perdurou até quinta-feira e que será preservada na nossa memória.
Eu, o Vasquinho (filho do Dr. Vasco Ramos) e o João Pedro
Partilhámos inúmeros momentos da nossa vida, fomos companheiros e amigos no mais profundo sentido das palavras.
As circunstâncias da vida afastaram-nos, o João, engenheiro de formação académica, veio para a Soporcel, para a Figueira da Foz, eu fiquei-me por Lisboa até que, em 1987, rumei a Coimbra. Reencontrámo-nos e retomámos velhas histórias como se tivéssemos estado juntos no dia anterior.
O João passou a ser visita de minha casa com a regularidade que queria ou podia. Bastava perguntar “ Zé, estão por aí? Então vou passar” e vinha, petiscava do que havia, púnhamos a conversa em dia e despedíamo-nos, invariavelmente, “ Então, até um dia destes”. Qualquer que fosse, era um dia sempre agradável. As minhas filhas gostavam muito dele e ele delas, com a Leonor era uma picardia divertida. Amava a vida.
O João viajou pelos cinco continentes e prendia-nos com a descrição dos povos e dos países que tinha conhecido, a sua cultura, as suas vidas e nós partilhávamos com ele a aventura.
Viveu preocupado, sempre preocupado, com o bem-estar da sua família, em particular dos filhos, mas também com os outros, com a distribuição da riqueza, com o fosso entre ricos e pobres, fosse no contexto nacional fosse no contexto internacional que conhecia, não suportava a injustiça, as situações de prepotência mortificavam-no, a falta de respeito pelo próximo indignava-o.
As crianças, em especial aquelas a quem a vida menos sorriu, enterneciam-no e esteve sempre disponível para apoiar instituições dedicadas ao seu acolhimento. Chegou mesmo a exercer voluntariado na Comunidade Juvenil de S. Francisco de Assis onde fazia de tudo, desde pequenos arranjos até à colaboração na gestão.
O João não vai voltar a aparecer. Fazem falta pessoas como ele.
Deixa um grande vazio e uma profunda saudade e leva com ele um pouco das nossas vidas.
José Oliveira Alves