Da minha janela, vejo o que vejo
E mais do que vejo.
O velho pôr do sol sempre novo,
A sagrar o horizonte,
Velho e a cada dia novo,
Em rubescente desmaio.
Corvachos, em bando,
A diluírem-se na noite nascente.
Eis-me em inflamados delírios:
Já noite, em recortes no horizonte,
Pedaços brancos, que são gente,
A despontarem na saudade.
Fecha-se a janela, cautelosa à friagem da noite.
No sítio do pôr do sol
O horizonte permanece
Onde estrelas tremelejam um passado longínquo.
E pedaços brancos que são gente
Voejam entre folhas negras
E tudo perpassam.
São gente!
Revejo-os, saudoso, nos meus inflamados delírios.
Os sentidos colhem fortalecidos alertas na intimidade da noite.
A lua ausenta a luminária e engrandece o silêncio.
E no imenso silêncio, a alma profunda da noite e há um cão que ladra.
E mais se adensam as emoções da saudade!
Nuno Espinal