Caro Alberto:
Não tinhas o direito de partir assim.
Sem mais, como se não fosses importante para todos e cada um de nós.
Recentemente, pelo teu aniversário, fizeste questão de nos reunires em tua casa, à volta da tua mesa, numa feliz comemoração.
A todos abraçaste com o teu sorriso aberto e prazenteiro que irradiava satisfação por estarmos ali.
A tua mulher, o teu filho, a tua nora e a tua neta desdobraram-se em amabilidades para connosco, como se de família próxima se tratasse.
A tua neta falou por todos nós, num improviso que lhe impusemos, e salientou, em palavras simples mas plenas de significado, aquilo que um avô mais desejaria ouvir – a admiração, o amor, o carinho por um avô sempre presente, amigo, conselheiro e protector que a Leonor lhe testemunhou
Poderíamos fazer nossas as palavras da tua neta.
Há dois anos, também por altura do teu aniversário, almoçámos em Fajão, lembras-te? Fizeste questão de oferecer o almoço dizendo algo como isto “estes são os meus amigos, que importa o dinheiro?”
Foste sempre assim, amigo do teu amigo, generoso, bom e leal, de nome e de temperamento.
Para ti a vida deveria ser um jogo sem vencedores nem vencidos.
Nunca ninguém te viu zangado nem nunca te ouviu uma crítica a quem quer que fosse. Foste um exemplo de amigo, marido, pai, avô e Homem.
Hoje, que o jogo acabou, perdeste, Alberto, perdemos todos, e penso que, sem o sabermos, o abraço apertado que trocámos no dia do teu aniversário era um abraço de despedida.
A vida tem destas traições.
Sabes que deixas um vazio enorme.
O teu lugar, no “Entroncamento”, no “Escuro” como lhe chamamos, vai agora ficar vazio ao lado do Vasco mas não deixaremos de sentir a vossa presença junto de nós.
Um dia, lá nos encontraremos no universo do tempo, daremos um fortíssimo abraço de saudade e continuaremos as nossas conversas que agora interrompemos.
Embora tivesses o dever de continuar junto de nós, vai em paz, Alberto
Até sempre, Amigo.
José Oliveira Alves