Os últimos dias cinzentos e, por vezes, de chuva têm-no afastado do seu poiso habitual, o muro à curva da “meda” onde se senta e costuma aproveitar a mornidão das manhãs de verão. E confesso que lhe tenho sentido a falta. Porque dia não há, quando de carro ali passo, que não me acene, numa saudação afável ou numa preciosa sinalética de trânsito.
Tem 83 anos de idade o Sr. Porfírio Nunes. Quem o não conhece?
Nasceu em Lourosa, veio para Vila Cova aos 7 anos e desde cedo trabalhou, claro, “naquele tempo era assim, quarta classe feita, às vezes nem isso e ala…no meu caso fui para pedreiro”, diz-nos.
Conheceria, entretanto, a Cesaltina que era de Avô. Namorico, casório e Vila Cova foi, e para sempre, o lugar de abrigo das suas vidas.
Do casamento três filhos, o Hermínio (61 anos), a Glória (50) e a Deolinda (45).
Na profissão foi crescendo, experiência e saber ganhos e tornou-se encarregado. Com o seu cunho muitas são as obras feitas em Vila Cova, Barril, Lourosa e Vila Pouca.
Com mais de 50 anos de trabalho, trabalho duro e agreste, resolveu procurar na reforma o descanso merecido. E assim o fez tinha cerca de 65 anos.
Hoje, viúvo, o tempo vai-o ocupando na conversa com os amigos, com um ou outro “petisco”, regado com um bom vinho, da sua adega. À noite a televisão, e uma ou outra telenovela, por certo. Mas, sente a falta de alguns amigos. O João Vicente é um deles. Era um companheirão das cartas e das conversas. “Hoje ninguém jogas às cartas…”, queixa-se.
Amanhã estará um dia de sol, quem sabe? E eu vou passar de carro e esperar o aceno do Sr. Porfírio. Um verdadeiro afago, acredite amigo Porfírio.
Nuno Espinal/Carla Marques