Versão Livre do Poema (Liberdade) de Nuno Espinal
Havia um peso – um penedo medonho
Que se desfez. Depois floriram cravos.
Lembras-te amigo? Não! Não era um sonho!
E tanto que nos rimos e cantámos.
“Que venha o futuro” – tu dizias.
E mais, disseste: “Abril, desejos mil”
Mas os anos passaram e os nossos dias
São hoje o travo amargo desse Abril.
Mas bendizemos ainda este latejo
De liberdade; já tão destruída.
Que a brindemos sempre com o desejo
De celebrar a paz, o Amor e a Vida.
Silvino Lopes
Liberdade (I)
Chegou mais um Abril. A madrugada
Que fez erguer, feliz, um povo inteiro.
Daquilo que colheu, não sobra nada.
Abril já se perdeu no nevoeiro.
Chegou mais um Abril e a liberdade
Zarpou dentro de nós como um veleiro.
Já não se vê, mas ficou a saudade.
Abril já se perdeu no nevoeiro.
Chegou mais um Abril. Nasce de novo
A esperança e a vida como no primeiro.
Mas tudo foi tirado a este povo.
Abril já se perdeu no nevoeiro.
Mas a vontade cresce e acalenta
A fúria de mudar. E o povo inteiro,
Cansado de sofrer, ergue-se e tenta
Fazer Abril, de novo, soalheiro.
Silvino Lopes
Liberdade (II)
Era criança e dormia
Num sonho primaveril.
Era noite e eu não sabia
Que estava a nascer o dia
... Aquela manhã de Abril
Era criança e sonhava
Brincadeiras, alegria,
E nem sequer suspeitava,
Por cada riso que dava,
Um inocente morria!
Apenas por discordar
De quem “fazia” a verdade,
Era preso por falar,
Torturado por calar,
Por amar a liberdade.
Eu não sabia e dançava
Nas nuvens belas do sonho.
E o meu país sangrava
E o meu povo chorava,
Num medo que era medonho.
Era criança e dormia
Descansada, sem saber
Que tanta gente sofria,
Que um povo inteiro queria
O que eu não sabia querer.
Hoje, cresci... acordei
Do sonho por onde estive.
Hoje sinto o que sonhei
Em criança, (agora sei)!
Que o meu país luta e vive!
“Á sombra de uma azinheira,
Que já não sabia a idade,
Desfraldei minha bandeira,
Jurei ter por companheira,
A chama da liberdade.”
Silvino Lopes