É impressionante esta incapacidade, que no país é geral, de reacção das pessoas quando direitos seus são ignorados e vilipendiados, em especial direitos colectivos.
Apenas um exemplo e para nos atinarmos a um caso entre muros. O caso da “mini-hídrica” a montante de Vila Cova. Quando da sua construção, há uns anos, apenas uns escassos protestos individuais. Entretanto, a mini hídrica construiu-se, em condições que nunca assistiram às populações, e hoje todos clamam contra os prejuízos que aquele monstro causa à fauna, flora e ao ambiente natural do rio.
Passividade colectiva, ausência de atitude cívica e acima de tudo um completo colapso identitário, aquilo que nos cria um sentimento do “nós”.
A este propósito, talvez valha a pena recordar caso do sino de Vila Cova…
Quando, por Decreto Lei de Maio de 1834, as Ordens Religiosas foram extintas, os Frades viram-se forçados a abandonar o Convento de Vila Cova.
À excepção da Igreja e do respectivo espólio adstrito, todo o património que integrava o Convento (edifício, terrenos de lavoura e mata) foi vendido em hasta pública a um adquirente particular. Mas mesmo algum espólio, composto, na generalidade, por paramentos e alfaias, foi distribuído por igrejas pertencentes ao arciprestado.
Presumindo um certo facilitismo em todas estas negociatas, o povo de Arganil, com o apoio do pároco,sentiu-se encorajado e tomou a decisão de se dirigir à Rainha, pedindo-lhe bondade e decisão para que o sino da Igreja do Convento de Vila Cova fosse direitinho para a torre da igreja da sua vila, já que o que nesta servia se encontrava necessitado de substituição.
Insensatamente, a Rainha acedeu. Por certo não conhecia a fibra dos de Vila Cova, que logo fizeram chegar ao Paço a devida resposta. "O sino de Vila Cova não sai. Mesmo debaixo de fogo não nos renderemos". E o sino não saiu.
Outros tempos…
Nuno Espinal