Desde “O Ano da Morte de Ricardo Reis” ao ainda recente “Caim” li, de Saramago, vários livros.
Li, com os sentidos a ler, e da sua leitura retirei sempre um prazer imenso. Eis o que, para mim, define um grande escritor. Não que Saramago fosse o meu favorito. Ainda que um dos favoritos (reporto-me a escritores de língua portuguesa) um ou outro há que me merece preferência. Entre eles Torga à frente. Mas diga-se o que se disser de Saramago, faça-se dele o juízo que se fizer, ele será eternamente um dos grandes da nossa literatura. Veja-se o impacto que a sua morte provocou entre os “média” e entre nós. De facto, só de um Homem grande. E sobre isto ponto final.
Ontem em Arganil ouvi, num café, o seguinte comentário:
“Um blasfemador foi o que ele foi. Dois dias de luto nacional? Maldito governo de hereges. Até renegou Portugal e os portugueses. Tornou-se espanhol. Mas Deus é grande e lá está para o julgar. Há-de arder no inferno para toda a vida…”
Tanta ignorância e tanta maldade! Que sordidez! E lá estava a justiça do “Deus Bíblico” que José Saramago íntegra e corajosamente questionou.
Nuno Espinal