Há quase meio século, quando então estudante e em período de férias em Vila Cova, a segunda quinzena de Setembro, já vivida na expectativa do regresso às aulas, era infalivelmente envolvida no ambiente das vindimas.
Recordo-me bem da azáfama desses dias, de grupos de homens e mulheres no corte de cachos, cestas à cabeça prenhes de uvas, carros de bois de canastras cheias, depois a “pisa”, por pés calejados das rijezas do dia a dia.
O ar lavado da vila inundava-se, então, de cheiro a uva, a mosto, a vinho. Era toda uma atmosfera fascinante.
Depois, durante anos, as circunstâncias da sorte levaram-me a vivências bem diferentes e das vindimas nem rasto.
Porém, há cerca de dez anos, tornei aos meus velhos lugares em que o mosto é parido. E tudo tão mudado! Menos vinhas, muito menos, as cestas substituídas por “poceirões” plásticos e transportados em atrelados de tractores. Desapareceu toda a azáfama antiga, desapareceu a pisa por pés descalços e hoje é a maquineta que se encarrega do esmagamento da uva.
Enfim, tenho que confessar uma certa nostalgia desses tempos. Mas que fazer, há o progresso, claro.
Pois então, encham-me lá um copo de vinho e do novo. E, pelo progresso, cá vai um brinde…
Nuno Espinal