Fiz a aquisição do “CD” do filme “Aquele Querido Mês de Agosto” e de imediato, com sofreguidão, confesso, dediquei-me ao seu visionamento. A grande expectativa que o filme pessoalmente representava, pelos comentários que me tinham chegado, guindou-o, porventura, a uma fasquia demasiado alta, que poderá ter-me defraudado, um pouco, o que dele aguardava, pela sugestão, até, que para mim lhe estava contida no próprio título.
O facto de conhecer razoavelmente essa realidade, a realidade de Agosto das nossas aldeias, que presumi, repito, o filme pretender retratar, poderá, à partida, ter-me condicionado à aceitação de aspectos que o realizador pretendeu narrar e evidenciar no guião.
De facto, Agosto é muito mais, para mim, em termos de movimentação e dinâmica próprias nestas aldeias, do que aquilo que no filme é sugerido.
Mas a ideia do filme partiu, sei-o agora, de uma ideia que ao realizador surgiu após ter assistido a um bailarico nocturno, com um conjunto em palco a “abrilhantar” uma festa das muitas que vão sucedendo em Agosto.
Alterado, então, o estado de espírito inicial com que parti para o deleite do filme, que de algum modo me criou um preconceito, tornei a visionar o filme já com outra adequação para os sentidos. E, eu próprio, acabei por me render e compreender também a forma entusiástica com que muitos o têm recebido.
O que acaba por relevar no filme, no seu conjunto documentário e ficção, é a mostragem de uma realidade que a globalização ainda não conseguiu contagiar. Não significa isto que muitos aspectos da vivência do quotidiano das aldeias da nossa beira-serra não estejam já tocados por imperativos ambientais, devidos a muitas exterioridades. Mas há vivências, e são muitas, que permanecem da tradição. O filme destaca-as de uma forma muito natural, muita retratista. Os próprios actores, no seu tão patente amadorismo, realçam essa naturalidade. E o filme acaba, e é apenas a opinião de um leigo na matéria, por ser brilhante.
Nuno Espinal