publicado por Miradouro de Vila Cova | Sexta-feira, 06 Junho , 2008, 23:55

 

É com este verso que começa um poema inscrito em determinado local do “Penedo da Saudade”, em Coimbra.
“Se esta velha pedra ouvisse
O que rimos aos vinte anos
Ais de amor, sonhos, enganos…
Talvez a rir se partisse!
 
Mas, tivesse olhos e olhasse
Os espectros que hoje somos,
Tão mudados do que fomos,
Talvez a pedra chorasse.
 
Deixando de lado a palavra “espectros”, pelo sentido literal e carga que encerra, desajustada à realidade de todos os neste escrito visados, e interiorizando apenas a nostalgia que o poema em si nos transmite, creio todos nós estarmos nele retratados, os do encontro de 31 de Maio.
O reviver de tantas emoções, os abraços que demos bem estreitados e sentidos, o perscrutar, por entre alguns cabelos brancos e algumas rugas dos rostos de há 40 anos e mais, as sensações de alguma juventude comummente vivida, intensamente absorvida, desses bem característicos anos sessenta, a evocação de outros amigos que não puderam estar presentes e, daqueles que já partiram e cuja memória guardamos nos nossos corações, tudo isto fez deste encontro uma jornada inesquecível.
A magia daquelas tão saudosas vivências, que as férias grandes nos proporcionavam em Vila Cova, continua bem presente na nossa memória.
As idas ao rio, as horas de banho até a pele se enrugar, os passeios de barco de açude a açude, as brincadeiras travessas tão próprias daqueles verdes anos, a reunião constante nas Tílias ou nos bancos sob as mimosas sobranceiras à Fonte dos Passarinhos, o jogar às cartas e ao “bom dia meu senhor”, os passeios nocturnos calcorreados intermináveis vezes de uma ponta à outra da aldeia, na cadência do “Sr. Tenente, Sr. Tenente, dois passos p’ra trás, um passo p´rá frente”, os ditos e anedotas que nos faziam rir a bandeiras despregadas, os bailaricos ao som do gravador de bobine do meu primo Jorge Augusto, recheado de todos os êxitos musicais da época, as récitas no salão paroquial e tantas, tantas outras circunstâncias e aventuras que, mesmo resumidas, não caberiam numa extensa narrativa.
E a par disto, os amores e desamores que as “miúdas” nos despertavam (continuam lindas), num turbilhão de paixões que deixavam marcas em corações sedentos de amar, onde um simples entrelaçar de mãos nos preenchia a alma de sentimentos inesquecíveis. Ou, em gestos mais ousados, uma troca, à socapa, de beijos e carícias, que nos transportavam ao mundo das sensações inenarráveis. Sim, que os tempos eram outros e os limites bem mais curtos.
Depois, “quand vient la fin de l'été..." (lembram-se, na voz e instrumentos dos “Les Chats Sauvages”), entre amorosas recordações e promessas de amor eterno, a debandada e a certeza do regresso uns meses depois.
Ah Vila Cova do rio Alva sereno e cristalino, a serpentear a seus pés, das sombras frescas e frondosas das suas matas acolhedoras nas tardes de canícula, dos piqueniques à beira rio, do café do Vasco, das Tílias, das festas de Verão, dos sabores ímpares da gastronomia, etc., etc. … e de tantas, tantas emoções.
Nesta marcha sem regresso, a vida vai inexoravelmente semeando ausências irreversíveis. Para esses a minha grande e sentida homenagem de saudade e um manto de pétalas de rosa a cobrir-lhes a memória.
Este encontro de recordações foi o primeiro de outros que se seguirão. E com cada vez mais presenças. Não só daquela rapaziada desses anos dourados, mas também das outras gerações que por lá passaram. E o próximo que seja em Vila Cova, porque é ela que nos une.
Um abraço.
Quim Espiñal
 
 
 
 

 


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