publicado por Miradouro de Vila Cova | Quinta-feira, 31 Dezembro , 2020, 07:58

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Vila Cova teve o privilégio de poder assistir, no Salão da Casa do Povo, a uma peça de teatro, cujo tema, alusivo ao Natal, foi escrito por Silvino Lopes.

A peça foi interpretada pelo Grupo “Os Gorgulhos”, grupo integral na área do Teatro, já que as várias vertentes ligadas a toda a estrutura que a apresentação de um tema teatral comporta são da sua total responsabilidade, desde a autoria de texto até à representação.  

A peça confirma a prodigiosa imaginação do Silvino Lopes a nível de texto e de encenação, mesmo, que a falta de recursos financeiros o obrigue a um minimalismo de adereços e cenários.

Os grandes protagonistas da história são os Reis Magos, havendo a realçar, no enredo desta peça, uma bi-temporalidade, convivendo a época atual com a época do nascimento de Jesus.

O início da peça retrata logo esta situação. Num cenário nu, os Reis Magos surgem vestidos à época, mas ornamentados de cachecóis alusivos à seleção portuguesa de futebol. Preparam-se para assistir a um jogo da nossa seleção, quando um dos Reis Magos, concretamente Baltazar, recebe uma mensagem de telemóvel a anunciar o nascimento do menino Jesus, o Rei dos Reis. “Noblesse oblige”, dois dos Reis Magos, Baltazar e Gaspar, decidem ir à Judeia saudar o Menino, enquanto Melchior decide ficar pois não quer perder o jogo.  

Após várias peripécias, com uma bem hilariante viagem aérea dos dois Reis Magos a caminho da Judeia, em avião da Companhia Aérea do Piodão, Baltazar e Gaspar chegam ao destino e acabam por encontrar, surpreendentemente Melchior. Como é que vieste cá parar? Pergunta um deles. A resposta é: Vim nas asas da imaginação.

Esta resposta revela a inteligência de quem escreve o texto. De resto, a imaginação e a criatividade são atos de inteligência, que caracterizam Silvino Lopes.

A peça está cheia de momentos com muita graça, a provocar acima de tudo um riso interior, como uma espécie de terapia face à situação de pandemia que atualmente vivemos.

Vale, de facto, a pena ver esta peça, com a duração de uns 40 minutos, peça que estará em arquivo até ao próximo Natal.

Então, nessa altura, já todos nós libertos das restrições sanitárias, que foram cumpridas na integra no Salão da Casa do Povo, e já sem os medos provocados pelo vírus, por certo que no próximo Natal não nos escamotearemos, como espetadores, ao prazer de assistirmos ou tornarmos a assistir à representação desta peça, cujos atores são Silvino Lopes, Fernanda Santana e Acácio Simões.

 

Nuno Espinal

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publicado por Miradouro de Vila Cova | Domingo, 27 Dezembro , 2020, 20:04

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Está frio. Muito frio.

As temperaturas, ainda o sol não se pôs, descem e atingem graus negativos durante a noite e parte da manhã.

Há quem se queixe, especialmente idosos, por menor capacidade no suporte ao frio.

Mas, o quentinho da casa, com as lareiras em laboração funcional, ameniza a friagem da rua.

É tempo dele”, dizem alguns, enquanto esfregam de rijo as mãos numa operação de aquecimento das geladas dermes.

“E ainda bem que ele surge”, ouve-se dizer, “está no seu tempo, no tempo certo”.

Afinal, a natureza ainda resiste e apesar das estatísticas darem como certo o aquecimento global, muito ainda poderá ser revertido, assim o queiram os poderosos.

Mas, vão querer?

Mal a pandemia esteja dominada e eis a economia na retoma, numa agressividade sem precedentes.

A questão não é a economia em si. A questão é uma economia sem ética, que tem como principal incidência a agressão ao ambiente.

Há expetativas de que algo pode mudar.

Biden é uma esperança, a esperança de que confirme todos os propósitos que manifestou em termos da defesa do ambiente, inclusivamente a restauração das proteções ambientais que foram desmanteladas por Trump.

Se assim não for, e outras medidas não forem executadas, mais uns anos e o mundo tornar-se-á insuportável.

O que queremos é que os infernos ocorram com a regularidade do frio e chuva de antigamente, e que os verões, das memórias dos mais idosos, nos façam suar com os mesmos calores, repletos de céu azul e um sol radiante.

 

Texto: Nuno Espinal

Fotos: Jorge Costa

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publicado por Miradouro de Vila Cova | Quinta-feira, 24 Dezembro , 2020, 06:56

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Presépio montado nas Tìlias pela União de Freguesias

 

O presépio, da foto cimeira, que aposta em elementos da natureza, vale acima de tudo pela sua graça. Mas, não disfarça uma certa tristeza, que nos invade rostos e nos enche, no dia a dia, de uma preocupação deprimente.

É o Natal possível, nestes dias cinzentões, que nos tolhem os afetos, tão precisos no frémito corporal do abraço, do beijo, da carícia. 

Refugiamo-nos na esperança.

E a frase, cintilante no esboço do sorriso, lá nos vai alimentando a fé: Para o ano o Natal será outro - pensamos, dizemos e tanto desejamos.

Que assim seja!

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Minimal presépio do Centro de Dia, sem o olhar caloroso dos nossos utentes, em confinamento nos seus domicílios

 

Texto:Nuno Espinal

Fotos: Mónica Ferreira

 


publicado por Miradouro de Vila Cova | Terça-feira, 22 Dezembro , 2020, 06:18

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Quantos contos de Natal correm, por aí, nestes dias de comemoração do nascimento de Jesus?

Muitos, mesmo muitos, dirão.

É verdade que sim.

Mas nenhum é igual ao que o grupo de Teatro, “Os Gorgulhos, vai contar no próximo sábado em Vila Cova.

Os Reis Magos vão até à Judeia, com peripécias de permeio, para adorar o Menino Jesus. Mas, lá chegados nem tudo vai correr como era esperado.

O que se terá passado?

Se quer saber, terá a resposta no sábado.

Ah, importante! Todas as normas de segurança, devidas ao Covid 19, serão cumpridas.

 

Nuno Espinal


publicado por Miradouro de Vila Cova | Domingo, 20 Dezembro , 2020, 22:06

Nas décadas de 50 e 60 a população de Vila Cova não restringia o seu tecido profissional aos trabalhadores agrícolas.

Contam-se as seguintes profissões, exercidas por residentes em Vila Cova naquelas décadas:

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Boieiro, ou seja, condutor de junta de bois. Chegou a haver, simultaneamente 4 juntas de bois, utilizadas, em grande medida, em transporte de produtos agrícolas e tarefas diretas na agricultura.

No transporte de cargas, desde agrícolas a quaisquer outras, era utilizada uma carroça, chamada “carro de bois”.

Era uma figura típica, com uma sonoridade ímpar vinda do chiar das rodas, um caminhar molengo, um dos elementos caraterizadores da paisagem rural de então.

O boieiro e os seus bois tinham uma importância fundamental na lavra, através da utilização do arado, que revolvia as terras, viabilizando, assim, um melhor desenvolvimento das raízes das plantas.

Os boieiros integravam-se na classe social dos agricultores e ainda hoje são recordados, com alguma saudade, sendo os seus nomes muito citados no constante apelo às nossas memórias: "Augusto Silva" ( Augusto Russo), “Zé Cruz”, “Zé dos Bois", com os Bois  do Convento, “Artur dos Bois” e "Joaquim da Portela" com os Bois do Pinheiral.

Sardinheira: no léxico português tem dois significados. Um refere-se a um género de plantas e o outro à mulher que vende peixe, especialmente sardinha. Ora, é este último que classifica a Dª Cacilda, senhora que nas décadas de 50/60 percorria a aldeia, com uma caixa de ripas de madeira cheia de sal, onde acomodava o peixe que pretendia vender e que assentava na cabeça, sobre uma rodilha.

A Dª Cacilda procurava as casas que sabia que lhe compravam o seu peixe. As outras, as da pobreza, tinham de a chamar e quando o faziam pouco lucro lhe davam, dado as quantidades exíguas das suas aquisições.

Recebia os tostões que guardava num saquito de pano, na própria caixa onde se alojavam, maioritariamente, sardinhas, mas também carapaus, chicharros, pescadas e, uma vez ou outra, peixes de preço superior. 

Outras sardinheiras houve, nomeadamente a Tia Alexandrina e a Tia Adelaide Silva.

Padaria/Forneiro/Moleiro: Eram os moleiros que transformavam o grão em farinha e eram as «mulheres da Vila» numa prática ancestral que passava de mães para filhas, que amassavam o pão deixando-o fermentar, crescer e fazer-se massa para cozer. 

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Em Vila Cova havia duas moendas, uma na Datão, propriedade do Sr. Armando Lourenço e outra na Várzea da Vila, propriedade do Sr. José Paiva, passando depois para os filhos. 

Era nos fornos que o pão era cozido, como cozidos eram os bolos nos quais sobressaiam os sequilhos e os bolos grossos.

A broa era, sem dúvida, o género com maior produção nas fornadas do dia a dia dos chamados fornos mais populares, porque enchia mais os estômagos, o que a tornava mais chamativa para os bolsos do povo.

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Os considerados fornos populares eram o da Ti Áurea e do Ti Albino, este último forno ainda intacto, por vontade do seu atual proprietário, Sr. José Martinho.

Mas existiam ainda outros fornos, para além de alguns particulares, na Datão e na Padaria.

A Padaria era o grande produtor de pão de trigo e de centeio, adquiridos pelos bolsos das famílias com uma vida económica mais confortável.

A Padaria ficava do lado esquerdo, da ladeira para o rio, logo no início desta. Hoje é um edifício em ruínas.

A figura castiça da Ti Áurea ficou na memória dos vilacovenses do seu tempo.

Mulher de língua afiada na censura de usos e costumes, era dotada de uma força hercúlea, já que puxava sozinha uma carroça com uma grande carrada de lenha para o forno.

Sapateiro: Em Vila Cova, nas décadas de 50 e 60 havia entre os Loureiros e as Tílias, um rés do chão, beirado à Estrada, onde o Sr. José Conceição da Costa (conhecido por Zé Calão) era mestre na confeção e conserto de sapatos, botas e sandálias.

As solas eram sempre em borracha e calçado saído do engenho e arte do Sr. José da Costa, dava para muitos anos. O molde era um desenho que contornava cada um dos pés, e daí nascia a peça de calçado escolhida pelo cliente.

Seduzido por melhores condições económicas em Lisboa, em finais dos anos 60 emigrou e pela capital ficou, todo o resto da sua vida profissional.

Cantoneiro: quem tinha a profissão de cantoneiro estava vinculado a várias tarefas numa dada região (ou cantão donde deriva a palavra cantoneiro) como a manutenção das vias rodoviárias, o zelo por uma maior qualidade do piso alcatroado, o cuidado pela sinalização relativa ao código da estrada e pela limpeza das bermas.

Mas, também plantavam árvores nas bermas da estrada, havendo mesmo viveiros de árvores nas capitais de distrito, que eram requeridas para a plantação.

Exerciam a profissão quatro vilacovenses, ainda que não simultaneamente: Alfredo Caetano, António Vicente, e mais tarde, mas ainda nos anos sessenta, José Pereira (Salazar) e depois Alfredo Antunes.

Alfaiate: Contam-se por quatro os alfaiates, em Vila Cova, nas décadas em estudo: os Srs. Jorge Almeida, Ernesto Gomes, Carlos Madeira e mais tarde, aprendiz do oficio em Lisboa o Sr. José de Paiva Caetano, que se estabeleceu na profissão em finais da década de sessenta. 

A agulha, a tesoura, o ferro de engomar, o giz e uma fita de métrica eram os principais instrumentos de trabalho.

O Sr. Jorge Almeida trabalhava na sua oficina, com mais três ajudantes.

Quem quisesse perceber todo o processo de fazer um casaco ou umas calças era só passar uns bons minutos na oficina.

 Só tinha a ganhar pois podia aproveitar uns bons tempos de cavaqueira, com o humor impagável do Sr. Jorge Almeida.

Com o surgimento do mais tarde do “pronto a vestir” as alfaiatarias caíram em desuso, permanecendo apenas as de “alta costura”, nos grandes centros urbanos.

Canastreiro: Era vê-lo, todos os dias, sem falhar, desde que o sol raiava até que o sol se punha.

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Estirava as vergas de castanheiro, amaciava-lhes a textura, entrelaçava-as, tricotava-as e com toda a arte e mestria lá realizava a obra. Eram as suas cestas, as cestas do Sr. Zé Canastreiro de Vila Cova, famosas nas feiras onde as vendia.

"Comecei aos 17 anos. Foi um tal Joaquim Fernandes que me ensinou. Foi isto que aprendi e foi isto que sempre quis fazer".

De facto, o tal Joaquim Fernandes era o canastreiro por excelência nos anos 50, com oficina no Calvário. Encomendas não lhe faltavam e vinham de todo o lado, em especial de Vila Cova, de Anseriz e Barril.

Para além do Sr. Zé Canastreiro, foi aprendiz no ofício o Sr. Rogério Fernandes, que demonstrou grande habilidade na arte da cestaria.

Com a idade já a pesar-lhe, o Sr. Joaquim Fernandes decidiu repartir o serviço, ficando Zé Canastreiro com as encomendas do Barril e Rogério Fernandes com as de Anceriz.

Entretanto, Rogério Fernandes foi chamado ao serviço militar e quando regressou optou por outra via profissional.

Com a morte de Joaquim Fernandes, Zé Canastreiro ficou a ser o único artesão no negócio da cestaria. Vendia cesta e canastras em feiras e trabalho nunca lhe faltou.

Fechou a sua oficina quando a idade lho exigiu. E a indústria da cestaria em Vila Cova, que tanto popularizou a Terra, cessou para sempre.

Regedor: Há ainda quem se lembre da figura do regedor. Exercia gratuita e obrigatoriamente as suas funções que eram, sobretudo, de polícia municipal e geral e representava e coadjuvava na freguesia o presidente da Câmara, de quem diretamente dependia.

Dos regedores havidos em Vila Cova recordo um que, nesse cargo, foi personagem nos meus tempos de infância e juventude. Era o Sr. Francisco Fernandes também conhecido, entre o povo, por “Chico da Guarda”.

“Chico da Guarda” porquê? Porque era descendente de um feitor dos Condes da Guarda, que vindo daquela cidade por cá ficou e deixou raízes.

O “Chico da Guarda” era um homem de algum modo castiço, muito apessoado e que lá ia tentando impor o respeito próprio das suas funções.

Mas, o facto de não ter poder coercivo limitava-lhe muito a sua capacidade de intervir, principalmente em contendas de luta física, habituais naquele tempo em Vila Cova.

Podia requerer os serviços da GNR, mas as chamadas telefónicas eram morosas e por vezes chegavam a demorar dias.

Mesmo que a GNR as recebesse em tempo útil, a deslocação até Vila Cova, dos agentes da GNR, era feita em bicicletas ou, então em camionetas da Empresa Arganilense.

Daí que nada valia o Senhor Francisco intervir, já que com um físico pouco robusto, poderia, no desapartar dos contendores, ficar ele próprio molestado.

Guarda Rios: “Aos profissionais Guarda Rios cabiam várias incumbências como guarda e proteção dos cursos de água, a fiscalização da extração ilegal das areias dos rios, da pesca clandestina, o corte de árvores e fiscalização de eventos concernentes a descargas de efluentes poluidores (entre outras), de forma a impedir a destruição do leito dos rios, das suas margens, da fauna e da flora.

Em Vila Cova houve dois guarda rios, os Srs. Camilo Ramos e Adelino Alves

Trabalhadores assalariados do Estado, eram rigorosos no cumprimento das suas obrigações e por tal granjearam sempre o respeito e estima da população.

Pedreiro:  Segundo uma indicação recolhida da Wikipédia, pedreiro é o profissional que constrói ou reveste muros, paredes, escadas, vigas, lajes, tetos, telhados, chaminés, etc., em edifícios, infraestruturas de saneamento e outras obras de construção geralmente orientado por um mestre de obras, utilizando materiais tais como a rocha ou pedra, o tijolo, a telha, o mosaico e o azulejo, o adobe, o cimento, a argamassa, a cal, o gesso e o betão e como ferramentas o escopro (ou cinzel) e o martelo, a picareta, a colher de pedreiro, a trolha, as réguas e esquadros, o compasso, o fio de prumo (ou prumo) e o nível de bolha (ou nível), entre outras. e

E eram de factos estas as tarefas que os pedreiros em Vila Cova tinham em cumprimento.

Em Vila Cova o número de pedreiros era variável, de acordo com o trabalho existente. Mas a média ao longo do ano era de 4 ou 5 pedreiros, que trabalhavam para o Sr. Porfírio Augusto, que durante as duas décadas foi o mestre de obras ao serviço dos vilacovenses.

Também como Mestre de Obras há ainda a referir os nomes do Sr. Fernando Antunes dos Santos (Preguiça) e do Sr. Alfredo Alves da Cruz.

Carpinteiro: Nas décadas 50 e 60 havia uma oficina de carpintaria, propriedade do Sr. João Vicente, que tinha 3 a 4 trabalhadores sob a sua gerência.  Pau para toda a obra, na carpintaria até barcos se faziam. Eram barcos a remos, que lançados às águas do Alva, iam do Salgueiral até perto do Porto de Avô, num ambiente inspirador, em que os sons da natureza se relevavam, misturados com o típico som da remada.

Madeireiro/Resineiro: Eram cinco os resineiros que atravessaram os anos 50 e 60 em Vila Cova: os srs. João Vicente, António Fernandes (Melro), Abílio Pereira, José da Silva Antunes e Benjamim dos Santros (Polícia).

Os dois primeiros dedicaram-se também à profissão de madeireiros e dispunham de uma equipa de trabalhadores que cortava árvores, em especial pinheiros, cuja madeira era também matéria prima para uma multiplicidade de produtos, concretamente lenha para aquecimento ou para produzir energia para a confeção de alimentos, derivados da madeira, após transformação em fábricas, como colas, aguarrás, componentes das construções de imóveis, objetos saídos da carpintaria e do artesanato e outros produtos com aplicações diversas.

João Vicente e António Fernandes na função da extração de resina, dispunham também de uma equipa de homens que para si trabalhavam.

Eram os resineiros que sangravam os pinheiros, dando-lhes um corte com o ferro, e colocando recipientes (caqueiros que eram de barro e depois de plástico) a sorver a resina escorrida.  

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O caqueiro levava cerca de duas semanas a encher, sendo que cada pinheiro dava entre dois a quatro quilos de resina.

A resinas dos caqueiros, logo que terminado o processo de enchimento, era despejada em bidons que depois seguiam para as fábricas, onde a resina era transformada em produtos usados na medicina, farmacêutica, cosmética, borrachas e até na indústria alimentar.

O auge do negócio da resina foi atingido na década de 80. A resina a partir dos anos 90 perdeu o seu vigor no negócio, por razões várias, entre elas o surgimento do eucalipto.

Contudo, em determinadas regiões do país é patente o ressurgimento da resina, pelo que o pinheiro aí ganhou nova importância.

Há mesmo quem diga que "o regresso dos resineiros já permite manter viva a floresta". Feitas as contas, dizem "já não compensa plantar eucaliptos".

Padre: Logo que ordenado, o Padre Januário foi colocado em Vila Cova, corria o ano de 1943 e em Vila cova ficou até á data da sua morte em 1993.

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Homem de grande simplicidade e disponibilidade, muito amigo de todos e também dotado de grande cultura, essencialmente histórica, gerou uma grande simpatia por parte dos seus paroquianos, que muito o respeitavam.

Foi o grande historiador de Vila Cova, com uma forte intuição para a pesquisa histórica, deixando inúmera documentação sobre a história da aldeia.

Tem nome de rua em Vila Cova e o seu funeral integrou uma multidão, nunca vista em Vila Cova, que foi prova da estima de todos, reconhecidos pela sua ação pastoral e pela estima que a todos dedicou.

Professora: muitos são os testemunhos de gratidão que podem ser recolhidos em todos os que da Dª Anita (Ana Gomes de Figueira) foram alunos na velha escola primária de Vila Cova.

O seu nome figura na toponímia de Vila Cova, colocado em placa na antiga rua do outeiro, em dia em que foi homenageada no Salão da Casa do Povo.

Refira-se ainda o nome do Sr. Professor Aurélio, que residente em Vila Cova, foi mestre na escola primária em Coja.

Homem de grande respeitabilidade, demonstrou grande dedicação a Vila Cova e contribuiu muito, com a sua entrega, para o progresso de Vila Cova.

Uma referência ainda para a Sra. Dª Rita de Figueiredo (Ritinha) que foi regente, durante algum tempo, na escola primária, nas 1ª e 2 classes.

Mercearias e Tabernas: Vila Cova chegou a ter quatro mercearias e quatro tabernas. Porque onde havia mercearias havia tabernas.

Contudo, algumas tinham mais caracterização de mercearia e outras de café. Exemplos de estabelecimento mais focado para mercearia era o do Sr. Vasco Ferreira, enquanto o do Sr. Fernando Gabriel estava vocacionado para taberna. Este estabelecimento ganhou fama pelos peixes do rio fritos e pelo bucho, confecionados pela esposa, Dª Helena Gabriel.

Vinham de todo o lado amigos do petisco, tanto dos peixes como do bucho, que não dispensavam um tinto que escorria diretamente do pipo.

Os outros dois estabelecimentos eram o da Dª Isabel Carvalho, que fechou ainda nos finais dos anos 50, e o do Sr. Ernesto Gomes.

Cafés: Vila Cova enchia-se de gente, no Verão naquelas dua décadas. Vindos de Lisboa, os lisboetas (conforme denominação criada na gíria) tinham hábitos como o de beber a bica. Percebendo isso, Vasco Ferreira não hesitou. Fez obras num espaço que tinha arrendado e lá nasceu o primeiro café de Vila Cova.

Entretanto, Ernesto Gomes não perdeu muito tempo e também ele, ainda na década de 60, inaugurava o seu café.

Correio e telefones: O Posto de correio e telefones estava sediado primeiro no estabelecimento do Sr. Ernesto Gomes, passando posteriormente para o estabelecimento do Sr. Vasco Ferreira. Inicialmente a correspondência era trazida por uma camioneta vinda de Coimbra, a mesma que depois recebia o correio e encomendas expedidos de Vila Cova.

Mais tarde passou o correio a ser transportado para Vila Cova através de camioneta da Empresa Arganilense, que vinha da Lousã e que era recebido cerca das 10h e 30m, e depois expedido através da mesma camioneta que regressava à Lousã e que passava em Vila Cova cerca das 15 horas.

O nome para quem a carta era enviada era lido, logo que o correio era recebido, perante um ajuntamento de pessoas à espera de notícias.

Quanto aos telefones, eram conectados a uma central manual, operada por um telefonista. O usuário tinha que girar uma manivela para gerar a "corrente de toque" e chamar a telefonista que atendia e, através da solicitação do usuário, comutava os telefones manualmente através das "cavilhas".

Por exemplo, uma chamada feita de Lisboa para um telefone de Vila Cova passava pela central de Coimbra, depois pela central de Arganil, a seguir pela central de Coja e chegava finalmente ao posto telefónico de Vila Cova, que depois fazia chegar a chamada ao telefone respetivo, enfiando a cavilha no número de telefone para quem a chamada era enviada.

Cobrador de camioneta: O Sr. José Carvalho esteve na profissão de cobrador de camioneta na Empresa Joaquim Martins da Fonseca durante vários anos. Homem muito disponível, conquistou a simpatia de todos os que com ele privavam, em especial clientes da carreira. Tinha um a força hercúlea, pois sem praticamente ajudas colocava bagagens de grande peso no tejadilho da camioneta, subindo uma escadaria que existia acoplada na parte traseira do veículo.

Barbeiro: na profissão de barbeiro, Vila Cova contava com a arte do Sr. Tavares, de Vinhó, que chegou a contar com a ajuda do Sr. Rogério Fernandes.

Mais tarde, na década de 60, surgiu o Sr. António Oliveira (Pardal) que veio a abraçar a profissão de barbeiro.

 

 

Nuno Espinal

 

 

 

 

                                                                            

 

 


publicado por Miradouro de Vila Cova | Quinta-feira, 17 Dezembro , 2020, 06:40

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publicado por Miradouro de Vila Cova | Sábado, 12 Dezembro , 2020, 11:27

 

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É com pesar que participamos o falecimento da Sra. Dª Maria Adelaide Gaspar dos Santos, de 80 anos de idade, solteira, natural e residente em Vila Cova de Alva. Faleceu ontem, dia 11, no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra, onde tinha sido internada há dias. 

 


publicado por Miradouro de Vila Cova | Domingo, 06 Dezembro , 2020, 23:21

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O tema central do nº33 da revista Arganilia é justificado pelo seu coordenador porque o ano de 2020 trouxe consigo uma pandemia que fechou o mundo, mudou as relações, prejudicou a economia e o desenvolvimento e veio colocar a nu inúmeras dificuldades da humanidade tal qual a conhecemos. Porém, trouxe também outros olhares e oportunidades, confirmando modos de vida anteriormente considerados extremos ou radicais, realçando opções mais sustentáveis humana e ambientalmente. E eis que surge a ideia de organizar um número da Arganilia subordinado a uma temática que é transversal a tantas áreas da Beira Serra: social, demográfica, económica, histórica, cultural, …

Num tempo em que se apela para uma maior atenção ao nosso país e, sobretudo, ao seu interior, as Aldeias do Xisto ressurgem como destino privilegiado de visita e estadia, em alternativa aos densos aglomerados tradicionais de veraneio, pois que o distanciamento social é uma prática que já entrou nos hábitos e no léxico dos portugueses e lamentavelmente exigida por tempo indeterminado.

Para a concretização da edição deste ano, foi pedido “a entidades públicas, autarquias e personalidades que pudessem colaborar neste número que servirá de porta de entrada a este mundo de aldeias que, desde 2007 se agrupam em torno de propósitos comuns, beneficiando da força que o conjunto pode trazer, pois que de forma solitária pouco ou nada alcançariam, mormente por se tratar de aglomerados demográfica e economicamente deprimidos, localizados em territórios com as mesmas características.

A presente Arganilia conta com os preciosos testemunhos de José Vasconcelos, jornalista de sempre da imprensa local e regional, que palmilha estas serras e vales há décadas; do pintor e artista Mário Vitória, cuja sensibilidade vai muito além da tela e também se materializa em vocábulos, ofertando-nos um texto saboroso, embelezado pela sua obra pictórica; do sentimento do poeta Nuno Espinal, que da sua aldeia do xisto vê o mundo com um talhe particularmente belo e que através de singelas histórias nos transporta a um quotidiano quase museológico; das autarquias de Góis e Pampilhosa da Serra que responderam afirmativamente ao nosso desafio de colaboração; do Turismo do Centro de Portugal, pela pena do presidente desta entidade regional, Pedro Machado, que tem a missão de divulgar os territórios aos viajantes; do incontornável Monsenhor Nunes Pereira que tanto e tão bem registou a Beira Serra; de nós próprios, numa visão mais geográfica e histórica e de Lisete de Matos, a quem cumpre uma palavra mais extensa. Este território da Beira Serra tem tido a fortuna de aqui se produzirem estudos culturais de temáticas diversas de enorme qualidade técnica e científica, contribuindo para o esclarecimento das paisagens humanas e naturais. Muitos são os autores, uns já falecidos, mas muitos ainda entre nós, que ano após ano, não raras vezes a suas expensas, publicam os seus trabalhos, fruto do enorme amor à terra que pisam e à qual se ligaram por razões que a cada um competem. Lisete de Matos tem tido profícua e proba produção escrita. Nome incontornável para os que estudam esta região, possui na sua importante obra um título que, por si só, mereceria toda uma revista Arganilia. Somos suspeitos nesta abordagem, pois que a autora foca um dos aspectos que mais valorizamos na arte e arquitectura popular: o pormenor, o que muitas vezes é desprezado, mas que constitui uma peça fundamental para a compreensão do todo.

Habitação na Beira Serra – do passado e do presente para o futuro, editado em 2018, é uma obra imprescindível para se compreender a dinâmica humana destas aldeias e a técnica de construção aqui utilizada, profusamente ilustrada e por isso não poderia deixar de figurar neste número consagrado às aldeias do xisto, apesar de retratar dezenas de aldeias não categorizadas neste programa. A autora acedeu simpaticamente ao nosso pedido de republicação de um excerto dessa obra que seguidamente reproduzimos, conscientes da mais-valia que traz ao tratamento deste tema. Contudo, é fundamental que todo o conteúdo do livro seja lido e apreciado, que um excerto é demasiado redutor para a compreensão do estudo em causa.

Infelizmente, outras entidades houve que não remeteram as colaborações pedidas.

O tema não se esgota, evidentemente, nestas páginas. Aliás, a Arganilia dedica-se apenas às aldeias que fazendo parte do programa das Aldeias do Xisto se encontram na que conhecemos como região da Beira Serra, nomeadamente nos concelhos de Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital e Pampilhosa da Serra. Mas fica uma porta aberta para que outros autores, temáticas e interesses em volta do assunto possam brotar e, com isso, enriquecer as histórias por si só tão ricas destas Aldeias do Xisto da Beira Serra.

Fica para os escaparates mais uma edição e mais páginas que acrescentam História à Beira Serra.

 


publicado por Miradouro de Vila Cova | Quarta-feira, 02 Dezembro , 2020, 23:28

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Trabalhadores Agrícolas

Nas décadas 50 e 60, Vila Cova, que patenteava uma feição rural, estava contida a um ensimesmamento e era auto servida em muitos dos seus requisitos, ainda que precários relativamente ao mínimo desejável, para a subsistência da sua população.

Este ensimesmamento apenas era ressalvado por escassas idas a Arganil, daqueles que tinham assuntos burocráticos a tratar, ou das idas a feiras, principalmente à de Avô, em razão da proximidade daquela vila, deslocação esta feita a pé.

A grande maioria da população trabalhava na agricultura, muitas vezes a soldo de outrem, em especial nos períodos das vindimas, da apanha da azeitona e da plantação e apanha das batatas.

Eram os trabalhadores agrícolas que despendiam a quase totalidade da energia física fornecida pelo coletivo, através da força motriz que geravam, criadora da produção e atividade económica da aldeia.   

Constituíam, com outros de profissões de baixos recursos financeiros, o escalão inferior da sociedade vilacovense, uma classe que enquadrava um paradoxo no Portugal daquela época: “os que mais trabalham são os que comem menos”.

De facto, assim era. Um salário diminuto, quando trabalho havia, muitas vezes pago em géneros, muito aquém de satisfazer, em termos aceitáveis, as necessidades mínimas, conducentes a uma vida minimamente digna do trabalhador agrícola.

A alimentação era muito deficiente e carecia, não só pela sua escassez, de ingredientes mínimos que a adequassem ao esforço brutal exigido àquela classe de trabalhadores.

Uma sardinha, por vezes até metade, batatas cozidas, regadas por azeite, azeitonas, broa e sopa, a que chamavam caldo, cozinhado com couves numa panela de ferro e eis que estava definido o menu de quase todos os dias.

Em dias de festa o rancho era bem melhorado, com o consumo de carne (porco, galinha, coelho ou até cabrito) com o repasto a incluir, tanto ao jantar (almoço no atual léxico) como à ceia (jantar no atual léxico) uma sobremesa invariavelmente composta de arroz doce e (ou) tigelada.

As refeições pobres do quotidiano levavam os músicos da Flor do Alva a desforrar-se quando das deslocações da Banda a outras terras, onde se realizavam festas inscritas nos seus calendários. Os músicos eram convidados a almoçar nas várias casas das terras e beneficiavam de ementa melhorada.

Esta situação acabava por se tornar um incentivo à integração como filarmónico, na Flor do Alva.  

A vida era dura, com trabalho de sol a sol, avisado o seu termo com o toque das avé marias, harmoniosamente soadas, nos sinos da Matriz, pelo manejar experiente do sacristão.

Numa abordagem ao vestuário, era normal o homem, no seu dia a dia, usar roupa coçada, esburacada aqui e ali, com remendos e abordando o calçado, no verão, muitos andavam descalços em terrenos térreos, usando, em dias de gelo ou chuva, os seus velhos tamancos.

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As crianças

As crianças frequentavam a escola a partir dos seis anos.

Escola que desde a década de 40 contava com uma excelente professora, que preparava os alunos para excelentes resultados escolares.

A escola era desprovida de instalações sanitárias, improvisadas, contudo, num declive térreo no lado direito do edifício, onde os alunos do sexo masculino faziam as suas necessidades fisiológicas.

As meninas tinham de se aguentar tanto quanto possível e, em casos extremos, tinham que recorrer ao tal terreno de improvisação sanitária, com as colegas a fechá-la num reduto, sem que olhos malandros a pudessem observar.

Antes dos seis anos, logo que adquiriam condições para tal, as crianças acediam à rua, com parca vestimenta, muitas vezes quase nuas e quase sempre descalças, onde brincavam com jogos a que faremos referência no próximo capítulo.

Logo que terminava a escola, a criança, precocemente, começava a trabalhar, em trabalho nada adequado às suas fragilidades físicas e mentais, e a suportar, tal como os adultos, às inclemências de intempéries.

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A Mulher

A mulher seguia um destino similar ao do homem, sujeita a trabalhos duros e violentos e, na sociedade machista em vigor àquela época, cabia-lhe a fatia das lides domésticas.

Dada a sua fatal condição fisiológica, a procriação e a amamentação, que lhe eram exclusivamente inerentes, não invalidavam de continuar as suas obrigações domésticas e, num período muito curto, a aceder às suas contribuições no domínio da agricultura.

Uma imagem típica das mulheres era a que as retratavam com cestos à cabeça, a levarem o jantar aos seus homens, ocupados em lides agrícolas fora da população e o transporte de cântaros, apoiados em rodilhas assentes na cabeça, pejados de água, que as obrigavam a equilíbrios virtuosos, típicos de habilidades próprias de circo.

 

Nuno Espinal


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