Imagens de Bruno Santos
Os trabalhos, que a foto sugere, indiciam que a praia fluvial de Vila Cova estará, muito brevemente, em condições de ser utilizada pelos muitos veraneantes que este ano são esperados em Vila Cova.
A União de Freguesias não se furta às devidas diligências para que tudo esteja devidamente tratado: areal, bar, sanitários e outros integrantes que fazem parte do compósito que é a praia fluvial de Vila Cova.
Venham, pois, a Vila Cova e fruam o que de bom a aldeia vos oferece: entre outros atrativos, uma paisagem ímpar, a tranquilidade, o Alva e a fresquidão e beleza natural da praia fluvial.
Nuno Espinal
I
Hoje faço anos!
Sou Rei!
Sento-me em cadeirão real
Envolto em tochas flamejantes.
Sem coroa
Mas sou Rei!
Lembranças, mimos, saudações, felicitações,
E oiço: que venham muitos, muitos anos!
Ah, sim, gosto!
Ainda que um efémero Rei,
Um falso reizinho,
Mas, gosto.
Hoje sou Rei!...
II
Faço anos!
Sou Rei!
E há um cão.
Um cão vadio,
Que ternura no olhar!
Não resisto,
Chamo-o, agacho-me, carícias,
Afagos, mimos,
Encosta-se-me ao peito,
Uma pata no meu ombro,
Duas patas,
O abraço.
Foi um momento!
O cão, solitário, logo se foi,
por caminho que lhe é de sempre.
Caminho de incertezas.
Rei, eu?
Altero o conceito:
Rei é quem, do pouco que tem,
Dá tudo o que tem.
Amor, carinho,
Sem condição.
O meu Rei-Cão!
O meu Cão-Rei!
Nuno Espinal, 20/6/20
Da minha janela, vejo o que vejo
E mais do que vejo.
O velho pôr do sol sempre novo,
A sagrar o horizonte,
Velho e a cada dia novo,
Em rubescente desmaio.
Corvachos, em bando,
A diluírem-se na noite nascente.
Eis-me em inflamados delírios:
Já noite, em recortes no horizonte,
Pedaços brancos, que são gente,
A despontarem na saudade.
Fecha-se a janela, cautelosa à friagem da noite.
No sítio do pôr do sol
O horizonte permanece
Onde estrelas tremelejam um passado longínquo.
E pedaços brancos que são gente
Voejam entre folhas negras
E tudo perpassam.
São gente!
Revejo-os, saudoso, nos meus inflamados delírios.
Os sentidos colhem fortalecidos alertas na intimidade da noite.
A lua ausenta a luminária e engrandece o silêncio.
E no imenso silêncio, a alma profunda da noite e há um cão que ladra.
E mais se adensam as emoções da saudade!
Nuno Espinal
A notícia era esperada, mas doi sempre quando é recebida. Parte para sempre um grande amigo, um amigo da “Malta”.
Faleceu hoje em Braga, cidade onde residia, com 72 anos de idade, o nosso amigo Abílio Pinto, vítima de um aneurisma cerebral, contra o qual lutou, já lá vão uns meses.
À família, em especial à esposa, a nossa amiga Ana Maria Pinto, um abraço muito sentido de tristeza e grande dor.
Um nosso leitor, que me pediu anonimato, questiona-me sobre um trecho de uma peça publicada no Miradouro, em 28 de maio, com o título “Flor do Alva: Vamos Vencer!”.
O trecho é o seguinte: “(do Povo) há um sentir a sua Vila Cova que, sem chauvinismos, é demonstrativo de uma identidade, de um apego à tradição, que muito se manifesta em atos religiosos.”
Diz o leitor que “os atos e práticas religiosos são, maioritariamente, de uma tradição criada pela Igreja, que o povo segue por fé e devoção. Não são atos emergentes da vontade ou da iniciativa populares”.
Tem razão o leitor. E tem razão quando e porque diz que “os atos e práticas religiosos são”, e sublinho, “maioritariamente, de uma tradição criada pela Igreja”.
O leitor pensa o que eu penso. De facto, estes atos e práticas, no domínio da religião católica, (ou de outra que fosse), são ações orientadas para um valor absoluto, resultantes puramente de convicções religiosas.
São intrínsecas à própria estrutura da Igreja e perduram “in saecula saeculorum”, com uma ou outra alteração no percurso dos tempos, determinadas sempre pela superestrutura da Igreja.
Ora, não é destas tradições, que pertencem à liturgia, aos ritos, às preces, aos gestos, às convicções da Igreja Católica, que são intrinsecamente da sua estrutura e da sua própria ética, que refiro quando digo que o apego à tradição dos vilacovenses muito se manifesta em atos religiosos.
Falo sim de manifestações que têm um cunho fortemente popular, ações que, também associadas a manifestações religiosas e orientadas pela tradição, que advém de uma prática continuada definidora de certos comportamentos.
Vamos a exemplos:
Na Festa de Santa Cruz realiza-se sempre uma Missa que tem sido celebrada na Igreja do Convento. Um ano houve em que, no fim da Missa, por uma questão de tempo, já que o Padre Rodolfo Leite tinha uma sequência de compromissos marcados, não foi cantado, fugindo à tradição, o cântico das “Três Marias”. Houve logo um chorrilho de lamentações por parte de muitos fiéis, censurando o não cumprimento de um tal ritual, que arreigam a uma tradição que tomam como sua. Repare-se que o cerimonial litúrgico foi cumprido na íntegra, naquilo que é a sua essência, ou seja, numa celebração pré-definida pela estrutura da Igreja Católica. Mas, a capacidade racional de entender a essência do ritual colapsa perante aquilo que é a tradição e a forma como é percecionada pela comunidade de fiéis.
Um outro exemplo:
As Procissões do S. João e de Nossa Senhora da Natividade realizam-se num percurso extenso, que se inicia na Matriz, segue pela Rua Direita até à estrada, e continua até à última casa da povoação, tomada que seja a direção de Avô. Perante a dimensão excessiva do percurso, cansativo de cumprir em dias de sol abrasador e impeditivo da presença de pessoas mais idosas, o Padre Daniel Rodrigues sugeriu o seu encurtamento, alvitrando a possibilidade de a Procissão virar à Praça, aquando do encontro da estrada com a Rua Padre Januário. A população reagiu contra esta proposta, sem ponderar a racionalidade ou não da sugestão. A tradição foi o argumento utilizado, como se a palavra só por si contivesse toda a argumentaria contrariadora de qualquer ideia opositora.
Um último exemplo, de entre outros mais que poderiam ser apresentados:
A bênção de ramos de loureiro, oliveira e alecrim, que antecede a procissão que evoca simbolicamente a entrada triunfante de Cristo em Jerusalém, é celebrada, no Domingo de Ramos, no átrio cimeiro da Igreja do Convento. Atendendo à escadaria da Igreja, com bastantes degraus, alguém sugeriu, em defesa dos mais idosos e dos que têm menor autonomia locomotiva, que a bênção dos ramos fosse celebrada num local com melhor acessibilidade. Foi, à partida, logo silenciado na sua proposta, com a eterno alegação da tradição.
E pronto. Espero que o leitor que se contrapôs com toda a correção ao meu comentário, tenha apreendido a fundamentação que expus. Fica vincada a força da tradição popular, no seu melhor ou pior, quando associada a manifestações religiosas.
Ao leitor o meu muito obrigado pela colaboração. Um obrigado que também quero estender a todos os cerca de 500 leitores que diariamente nos visitam.
Muito obrigado a todos.
Nuno Espinal