Há um certo amorfismo e apatia na reação dos vilacovenses quanto a ações em proveito da sua própria “terra”. Um ou outro lampejo ocasional de realizações, em prol da aldeia, não refutam esta ideia.
Prenuncia-se até uma certa irreversibilidade deste estado anímico, porque não se vislumbram sinais de um número significativo de vontades reagentes. Veja-se a dificuldade crescente, de ano para ano, na elaboração de listas candidatas a Órgãos Sociais das Instituições.
Mas, ainda assim, há um sentir a “terra”, um sentir a sua Vila Cova que, sem chauvinismos, é demonstrativo de uma identidade, de um apego à tradição, que muito se manifesta em atos religiosos.
Em outra vertente é a “Flor do Alva” que suscita a grande ligação emocional dos vilacovenses à sua Vila Cova.
Atente-se na atitude, que é uma tradição, dos vilacovenses sempre que a Filarmónica passa em arruada: saúdam-na de pé, num ato reverencial de grande significado.
A Flor do Alva é a menina bonita, a grande bandeira de Vila Cova para os vilacovenses.
Ora, o espetro do fim da banda é uma realidade. E já o é há tempos. Temida pelos vilacovenses, esta eventualidade para não se concretizar, embora sem garantia absoluta, implica da parte dirigente da Filarmónica um forte empenhamento na captação, manutenção de músicos e na gestão dos recursos financeiros.
Apesar das dificuldades, tem a atual Direção da Filarmónica superado adversidades, mantendo um apreciável número de filarmónicos e, com muito trabalho e dedicação, amealhado euros que, adicionados a outras receitas, têm proporcionado uma situação financeira confortável.
Só que, o inesperado Codiv-19 revirou a situação de estabilidade. Sem receitas, sem contratos para atuações, com despesas a permanecerem, a Sociedade Filarmónica Flor do Alva passa por um momento de crise.
Mas emerge aqui a pessoa de Margarida Fernandes. Lutadora, dedicada, empenhada, a Presidente da Direção da Flor do Alva não vira costas ao combate que o atual momento de crise reclama. Para já, ao que disse, parece assegurada a continuidade dos filarmónicos, “que já há algum tempo não se reúnem, por falta de ensaios e atuações.” Quanto às finanças, segundo Margarida Fernandes, “as coisas podem vir a complicar-se, porque as receitas estão, naquilo que é o seu maior recurso, dependentes dos contratos referentes às presenças em festas no verão e de serviços de restauração nas festas organizadas pela União de Freguesias. E as despesas continuam, tanto as normais, como as que são especiais. Das especiais cito esta, como exemplo: as despesas do novo fardamento, encomendado antes da crise do corona vírus.”
E se o vírus persistir e as condições que geram receitas prosseguirem inalteradas?
O espírito lutador de Margarida Fernandes sobressai, fazendo jus à sua excecionalidade na notória ausência de afã regionalista, de entre os vilacovenses.
“Não vamos permitir que a Flor do Alva sucumba à crise provocada pelo vírus. Outros argumentos hão de ser postos em prática. Vamos vencer!”
Nuno Espinal