Não compreendo a frase “a partir de agora nada vai ser como dantes”. Como se o efeito “vírus” viesse alterar tudo e todos nós passássemos a ser outros, pessoas diferentes.
Obviamente que algo vai mudar. O retrocesso da economia, um facto já evidente, vai mudar hábitos, em especial a nível do consumo. E outras alterações, a nível dos hábitos e dos costumes, são expetáveis. Mas, daí a tudo mudar…
Por exemplo, a Igreja Católica, conservadora como é, alguém pensa que a sua ideologia, os seus procedimentos litúrgicos, os seus rituais possam mudar assim tanto?
Não o creio e disso ninguém a deve censurar. As suas tradições vão manter-se, porque representam muito da sua substância, da sua essência. A Páscoa, e falamos dela pela sua proximidade temporal, vai manter as suas tradições, a sua simbologia, os seus rituais.
Contudo, em período generalizado de contenção e de confinamento social, algumas manifestações houve nesta Páscoa, alheias aos habituais costumes locais, a que apenas reportamos existência temporal e que tiveram a intenção de superar o vazio presencial na Igreja dos fiéis.
Foi assim que o Padre Daniel Rodrigues lançou uma ideia, para com as suas Paróquias. À porta das casas uma cruz, ornamentada com ramagens de loureiro, oliveira e alecrim nos Ramos, com uma tarja vermelha na Paixão e com flores a partir de Domingo Páscoa até Quinta Feira da Ascensão.
Este domingo, o Padre Daniel veio a Vila Cova benzer as cruzes. Uma delas, a da foto, é a que está estampada no Centro de Dia da nossa Santa Casa.
Foi bonita a ideia. Mas, ainda assim, não deixo de manifestar um desejo.
O de que para o ano tudo, na Páscoa, volte ao normal.
Nuno Espinal