O processo acelerado e constante de transformações tecnológicas que a humanidade de hoje vivencia levam-nos quase a caricaturar o pasmo que nos anos vinte, um simples aeroplano, provocava nos pacatos cidadãos da nossa Beira.
Mas, foi precisamente isso que aconteceu quando os céus da nossa Vila Cova e de povoações vizinhas foram palco de um acontecimento que deixou atónitas as gentes daquele tempo. Os jornais falaram disso e a Comarca de Arganil de 20 de agosto de 1925 trazia um título que dizia: “UM AEROPLANO voa sobre esta região”.
A notícia traz então apontamentos dos correspondentes de várias localidades, entre eles o de Vila Cova, que refere: “Foi hoje, (dia 16) cerca das 5 horas da tarde, visto aqui um aeroplano a grande altura. Dirigia-se para Seia e despertou a curiosidade de muita gente./…/”
Outros apontamentos são referidos e as localidades citadas que testemunharam o acontecimento são Cadafaz, Fajão, Cavaleiros (Fajão), Carvoeiro (Pecegueiro), Pardieiros, Porto da Balsa, S. Gião, e Piódão. Em todos é salientado o grande entusiasmo e admiração das populações, quase todas surpreendidas já que tinham presenciado o fenómeno pela primeira vez.
E se os testemunhos em quase tudo condizem são, contudo, discrepantes nos tempos de passagem do “aparelho voador”.
Contas feitas, um caso há em que o aeroplano ultrapassaria mesmo a velocidade da luz. Erro jornalístico, na marcação das horas? Claro que sim. Mas, para tais desfasamentos há explicação incontestada.
Hoje, um qualquer relógio vendido em feiras, dos “made in china”, marca horas com rigor bem matemático. Naqueles tempos os relógios a dar horas, no então “Portugal Rural”, eram os das torres das igrejas. Relógios mecânicos, os seus acertos tinham referência no relógio de bolso do Prior. E o Prior, mais preocupado com o rigor das almas, nem sempre dedicava a sua atenção para a precisão que estava universalmente aceite no Big Ben londrino. É que nem sequer, até, teria meios para tal. Daí que, por vezes, as horas saídas das torres de igreja de Vila Cova se diferenciassem de outras de localidades, localidades muitas vezes até vizinhas.
De resto, o principal relógio nesses tempos era o Sol. Nascia o Sol, começava o trabalho, punha-se o Sol terminava o trabalho. E nesta cadência, neste ramerrão lá ia decorrendo a vida. Vida sobressaltada, por vezes, pelo inesperado de um ou outro acontecimento, como o da passagem no céu, naquela tarde de 16 de agosto de 1925, de um aeroplano…
Nuno Espinal