“Uma sardinhada, no dia de Santo António, podia lá faltar?...”
É assim que uma utente do Centro de Dia, nos seus mais de oitenta anos, nos falava do almoço que se aproximava.
E prosseguia no seu parlatório:
“Eu gosto muito de sardinhas e no dia de Santo António ainda me sabem melhor…”
E concluía o seu solilóquio:
“Sabe? É a tradição…”
Confesso que fiquei um pouco aturdido. O Santo António, tradição em Vila Cova?
Ora, de tudo o que sei, de há uns cinquenta anos e mais, nunca o Santo António teve qualquer relevo como festividade e tradição em Vila Cova.
O que acontece é que a globalização tem imposto certas manifestações culturais advindas de centros populacionais de poder e grandeza e recolhidas por populações que antes as ignoravam e que lhes eram estranhas.
É o caso, por exemplo, do Santo António, celebrado em Lisboa, com grande participação popular e do Halloween, um antigo costume anglo-saxão que perdeu o seu estrito sentido religioso para celebrar, de forma pagã, a noite do terror, das bruxas e dos fantasmas.
Mas, a questão é esta e por aqui estanco qualquer discussão lícita e absolutamente compreensível sobre este assunto: sentem-se as pessoas felizes em celebrações de cunho popular, mesmo que alheias às suas tradições e identidades?
Pelo que consigo perceber, em Vila Cova, na sardinhada do Centro de Dia, a questão nem sentido faz. A sardinhada foi recebida e participada com muito boa disposição, integrada que foi na celebração do Dia de Santo António.
Quem a degustou está-se completamente nas tintas para qualquer polémica sobre o assunto.
Pois assim sendo e porque o bem-estar das pessoas é o fundamental, resta-nos um aplauso à sardinhada e um viva com todo o ímpeto ao Santo António.
Nuno Espinal