Há dias ouvi um comentário de um vilacovense, referindo-se aos muitos visitantes que, neste mês de agosto, se encontram em Vila Cova:
“O que é que cá vêm fazer? Ainda se contribuíssem com dinheiro para as coisas da terra!”
Confesso que fiquei agastado, mesmo que este comentário possa ser secundado por uma insignificante minoria.
De propósito, fui buscar, para este apontamento, fotos que se reportam a 1955, em tempos em que as realizações da terra dependiam das contribuições generosas de vilacovenses residentes e não residentes em Vila Cova.
Foi o caso do cortejo histórico, revivido nestas fotos, que tinha por objetivo a angariação de fundos para arranjo do telhado da Igreja Matriz.
É que a expressão das manifestações coletivas nos dias de hoje, na forma e afetividade com que estas se enformam, tem contornos muito diferentes, apesar da distância temporal, a que se reportam os períodos em registo, ser de pouco mais de sessenta anos.
Em 1955, a ensimesmada população de Vila Cova estava, na sua maioria, ligada à agricultura, de onde lhe provinha os proventos da sua subsistência.
Em relação solidária bem mais coesa e identitária, havia, então, entre os membros da comunidade um sentimento coletivo muito mais imperante, que redundava num vilacovismo muito sentido.
Vilacovismo esse que era com a mesma intensidade, e por vezes em dimensão superior, vivido por os não residentes, (os lisboetas como desacertadamente eram chamados).
Tempos, afinal, em que os vilacovenses sentiam grande orgulho no nome da sua terra.
Mas, os tempos mudaram e mudou o sentimento e a consequente expressão do atual “vilacovismo”.
“Vilacovismo esse que não é já sentido com a mesma intensidade pelos vilacovenses no seu todo, quer sejam residentes ou não residentes.
Mas, apesar de uma menor entrega dos vilacovenses às realizações em prol da sua Vila Cova, as obras vão acontecendo e não em menor número e dispêndio financeiro.
Ora, para que tal aconteça há que realçar as virtudes do “Estado Social”.
E é pelo “Estado Social”, através da via institucional (Autarquia Local, Câmara, e Santa Casa da Misericórdia de Vila Cova), que se compreende o porquê das obras de grande vulto que vão acontecendo e aconteceram nos últimos anos em Vila Cova, nomeadamente, entre outras, a ETAR, a ampliação do edifício do Centro de Dia, a praia fluvial, as obras de requalificação de ruas de Vila Cova e as obras que vão acontecendo nas casas “trigémeas”.
Ora, o Estado Social é maioritariamente consubstanciado, em termos financeiros, pela classe média, nas suas condições profissionais de trabalhadores por conta de outrem.
E os que visitam Vila Cova são parte integrante dessa classe média.
E pagam, e bem, para que tudo o que o Estado Social sustente seja uma realidade.
E pagam, e bem, para que as obras que o “Estado Social” financia em Vila Cova sejam uma realidade.
Nuno Espinal