Fechou-se, por este ano, o pano do palco dos multi-espaços onde decorreram as evocações ao 25 de abril. Registos laudatórios em profusão, nem todos ditos por bocas sinceras e ajustadas, mas também alguns amargos de boca, vindos daqueles ou que nunca se acomodaram aos motivos e trajetos políticos de abril ou que, de abril, imaginaram “purezas” irrealizáveis por utópicas. Mas, também, críticas justas, dos que de abril exigem o essencial do que até agora nos tem dado: democracia e liberdade.
Sou dos que se enxergam neste último grupo que, no país, ao que creio, é esmagadoramente maioritário. E, dos que festejamos abril, não há um único que não manifeste dissabores, legítimos de quem se desfruta, e quer continuar a desfrutar, nos ideais de abril.
Ora, aqui me manifesto com um dos meus dissabores. Serei breve e intentarei ser conciso, já que este espaço, pelas suas características, assim o aconselha.
Assim sendo, eis-me um desprazer, que é antes de mais uma revolta:
Lembram-se da velha trilogia, propalada no salazarismo, “Fátima, Fado e Futebol”? Suposta fonte de alienação, nesta trilogia estava implícito, ao que se dizia, um método, do regime de então, de destituir o Povo de sentido crítico, de pensamento próprio, ocupando-o de banalidades, de suscitar no Povo a aceitação de pseudoverdades que lhe eram impingidas pela máquina de propaganda salazarista.
Hoje rio-me do que me parece ter sido uma mera boutade e pouco mais do que isso.
Comparemos o que era o ambiente em redor do futebol de então com o ambiente que o entranha atualmente.
Não há comparação possível. O futebol, hoje, tornou-se de um fanatismo perigoso, violento, mafioso. Os dirigentes, pessoas de nível moral criticável, incitam à inverdade desportiva, fomentam, subtilmente, a desordem e têm nas televisões o laboratório por excelência para lançarem as suas invetivas, servidos, por comentadores, muitos deles de discursos caricatos, imorais e facciosos, em horas nobres nas programações dos principais canais do país, quase diariamente.
Há de facto um sistema bem urdido que é composto por uma máfia de três clubes. Parecemos um país de anormais, sujeitos a uma propaganda que distorce a verdade. Uma propaganda com alvos definidos nas massas adeptas de cada um dos três clubes, ao jeito da propaganda injetoras na cabeça de cada um de verdades fabricadas, que afinal são mentiras.
Vivemos num verdadeiro imperialismo de três clubes. O resto não existe.
Acordem amigos, é tempo de reagir, de dizer basta.
E aceitar que num país livre e democrático todos têm direito a ser ouvidos, a manifestar-se e a exercer os contraditórios, em tudo o que vai acontecendo nas nossas vidas, nos nossos quotidianos, inclusivamente no futebol.
Lutemos pela verdade desportiva, contra o fanatismo, contra a "triocracia" no futebol.
Viva abril!
Nuno Espinal