Eu sei que o adepto clubista está entranhado por uma irracionalidade extrema, fruto de paixão exacerbada que lhe tolda, quase sempre, uma normal perceção justa das questões do futebol.
Bastaria uma pedagogia, de quem dispõe de meios e responsabilidades para tal, para inverter, ou no mínimo mitigar, este estado fundamentalista e irracional dos prosélitos clubistas. Mas, não é isso que acontece, bem pelo contrário. Veja-se o caso das televisões. Em todas elas, com muito raras exceções, três ou mais pseudocomentadores, que apenas são contratados para defender os seus clubes. E estes clubes são eternamente os mesmos: os apelidados “três grandes”. Tornam-se irritantes, estes comentadores, pelo tom acalorado e, tantas vezes, malcriado postos nas discussões e pela falta de seriedade nos julgamentos e análise. E esta camarilha omnipresente nas pantalhas integra ainda dirigentes e treinadores, gente intriguista, de mau carácter e até boçal.
O curioso é que, se em pleno regime salazarista a oposição criticava o modo como o sistema impunha socialmente o ambiente “futebolês”, após o vinte cinco e abril de setenta e quatro esta imposição cresceu desmesuradamente e faculta ainda mais, a níveis inconcebíveis, as vantagens que o sistema concede aos ditos “três grandes”.
Os milhões de euros com que estes “três” vão ser brindados nos próximos anos, em função das transmissões televisivas, aprofundará o fosso com os restantes clubes, tornando as competições cada vez mais desiguais e assimétricas.
Restará aos outros, que não os ditos três, ações e medidas que contrariem este estado de coisas. Por exemplo, greve aos jogos em que com eles compitam. Aposto que, se esta medida fosse aplicada, muito mudaria. Mas, não. Nem esta nem outras medidas vão acontecer. Afinal, uma total redenção, em que o eterno mexilhão será sempre lixado. No futebol como no resto…
Nuno Espinal