Aos poucos, as placas toponímicas cobrirão todas as vias públicas de Vila Cova e as casas estarão todas numeradas. Os grandes beneficiados serão os carteiros que ficarão dispensados do ciclópico trabalho de decorar os nomes dos residentes da vila e associá-los, sem qualquer referência a nomes de ruas, aos respetivos locais onde habitam.
Curioso é que o nome administrativo de algumas ruas não seja reconhecido pela população. E, assim, o povo mantém nomes antigos, caso, entre outros, da Rua Direita, do Largo do Adro, da Rua do Outeiro e da Rua do Vale da Fonte. Esta, por exemplo, passou a chamar-se Rua da Casa do Povo, o que parece de todo ilógico.
Mas, a verdade é que em Assembleia de Freguesia os nomes foram propostos e votados. A questão é que a populaça, nestas coisas, desliga-se do poder autárquico e administrativo, impõe a sua vontade e nada há fazer. Como diz a velha palavra de ordem “o povo é quem mais ordena” e pronto!
De resto, esta determinação popular é global, mesmo nos aglomerados populacionais de grande dimensão. Veja-se o caso do Largo D. Pedro IV em Lisboa, que é para todos o “Rossio”, ou da nova Ponte de Coimbra que a edilidade posteriormente decidiu chamar de Ponte Rainha Santa Isabel, mas que muitos conimbricenses teimam em chamá-la pelo nome inicialmente escolhido, ou seja “Ponte Europa”.
E, já agora, retornando a Lisboa: Terreiro do Paço ou Praça do Comércio? Ora, sumariando registos históricos, eis a explicação:
No século XVI, o nosso rei D. Manuel transferiu a sua residência real para o palácio existente na zona a qual veio, por isso mesmo, a chamar-se “Terreiro do Paço”. Mais tarde, destruído o Palácio Real pelo terramoto de 1755, o Terreiro do Paço tornou-se no elemento fundamental do plano de ordenamento urbano do Marquês de Pombal, reconstruindo o local em privilégio da classe comercial, financeira e burguesa da cidade e, por essa razão, atribuindo-lhe o nome de “Praça do Comércio”.
Ora, passados mais de dois séculos e meio, muitos são os lisboetas que, insistentemente, continuam a chamar, à bela Praça de Lisboa, “Terreiro do Paço”.
Repito, nada a fazer. Nestas coisas da toponímia a vontade do povo parce ser soberana.
Nuno Espinal