Ao longo de toda a história do mundo a pobreza sempre existiu e muito maior foi a sua dimensão, definindo-a em termos absolutos, quanto mais no tempo histórico recuarmos. Um homem rico da Idade Média, em termos absolutos, dispunha de menos bens e conforto material que um remediado dos tempos de hoje, mas isso não invalida que fosse considerado rico naquele período histórico.
Mas, a pobreza é, a cada momento histórico, considerada, fundamentalmente, pela sua observação em termos relativos, ou seja em termos comparativos. Um pobre na Suíça não o será assim tão pobre, antes pelo contrário, em comparação com um pobre em um qualquer país pobre de África.
Ora, a leitura de um breve trecho de uma Ata de 1867, de uma reunião da Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vila Cova, suscitou-me esta reflexão entre pobreza relativa e pobreza absoluta.
Os bens distribuídos naquele tempo seriam impensáveis de ser distribuídos, como dádiva à pobreza, nos tempos de hoje. Atentemos, pois, à Ata:
“Ponderou a Mesa que se deveriam vestir as três pobres da obrigação anual, da Santa Casa e que o facto que havia de ir para as três fosse repartido por mais alguns necessitados que são os seguintes: Maria das Dores, viúva do lugar de Vinho foi provida com uma saia; Maria Madalena com outra saia; a filha aleijada de António Gaspar com outra saia; a filha de Joaquim Lopes Crespo, desta Vila, com outra saia; a filha de António Fernandes Canastreiro com outra saia; o filho aleijado de Maria Caetana da Datão com umas calças; a filha muda de Maria Teresa Sampaio com outra saia; António dos Santos com umas calças; finalmente a filha de Ezequiel Nunes Nabais com uma saia e uma roupinha.”
Nuno Espinal