Quantas vezes me penitencio por contradições e incoerências a que não me consigo furtar. Passo a explicar: Louvo a tecnologia. Dos seus atuais estados faço o maior uso possível, dentro das minhas disponibilidades e capacidades. Outras vezes, a própria tecnologia entra-me porta dentro, com os bons resultados que me proporciona, requerendo-me a contrapartida de um simples toque num botão. Outras vezes nem isso. Da minha parte, com uma taxa de esforço nula, recebo passivamente os seus benefícios sem que mexa um único dedo.
Por exemplo: Em Vila Cova o badalar das horas é-me fornecido pelo toque de um sino que um singelo computador, matemática e rigorosamente, difunde em altifalante. Pois que viva a tecnologia!
Só que aqui há uns anos as horas eram-nos comunicadas pelo toque de sinos reais, lá no cimo das velhas torres (do Convento e da Matriz) sem computador nem altifalante. Umas geringonças repletas de peças e mais peças, mecanicamente acionadas pela força de uns pedregulhos suspensos. Mas, aquilo funcionava e, às horas mais ou menos certas, os badalos repercutiam-se nos sinos, e lá íamos sabendo dos quartos de hora e das horas do dia.
Desses toques tantas as saudades! Quem me dera sentir-lhes de novo as sonoridades e até as sinfonias do Luís Tareso, ao manobrar artisticamente os sinos da Matriz ou do Convento, a anunciar de véspera as Missas de domingos e feriados.
E cá estou no velho dilema. Afinal de contas, passado ou presente? Nem sei que responder. Ou melhor, direi que um e outro. Vêem o paradoxo?
Nuno Espinal