O “VIII Encontro da Malta” já mexe. Somam-se, dia a dia, as inscrições e, nas conversas entre alguns de nós, lá se relembram episódios do passado, nos cenários de Vila Cova. A propósito, republico uma historieta que retrata o nosso então espírito juvenil, ainda o ano sessenta não se inscrevia no calendário. Hoje, cabelos grisalhos, mais de meio século passado, o afago dessas recordações e um sorriso onde ainda ecoam as gargalhadas daqueles tempos.
«Eram pequenos calhaus espalmados, com uma espessura de milímetros e diâmetro do tamanho da palma da mão. No Salgueiral havia-os e era com estes seixos que nos entregávamos à disputa, aproveitando as condições que o leito do rio, a montante do caneiro, nos oferecia.
As águas corriam serenas, quase paradas, uma piscina acolhedora dos banhos de Verão. Mas, a disputa nada tinha a ver com esses banhos.
Rapazolas que então éramos, entregávamo-nos ao entretenimento com jogos, variados jogos, fosse com uma bola de coiro, um baralho de cartas, fosse o da “verdade ou consequência”, fosse com um simples seixo.
-“Quem ganhar é o maior garanhão deste mundo, quem perder é o maior paneleiro!...”
-“Eh pá, porra! Se ganhar tanto melhor, paneleiro é que não!”
E lá nos entregávamos à jogatana, com as melhores das artes e saber. O seixo era atirado em voo quase rasante ao leito do rio, e ia dando pulos e mais pulos a cada toque nas águas. Ganhava o que mais saltos conseguisse e perdia o que, de saltos, menos contabilizasse.
Mas, eram tudo troféus de momentos. Instantes depois já ninguém se lembrava dos “rótulos” da refrega.
Como recordamos esses tempos e jogos… Eu, o meu irmão Quim, o Zé Alves, o Toneca, o meu primo Jorge Augusto, os irmãos Eduardo e Abílio Pinto, o Zé António Sequeira, o Fernando Vicente, o Antero, o Tó Cruz, o Alberto, o meu primo Manuel António e outros mais.
Lembram-se dos rótulos que nós próprios criávamos e a que nos sujeitávamos? Rótulos sem consequências e, muito menos, verdade, claro.
Porque, amigos, a verdade e consequência estão inteirinhas nas nossas recordações, na saudade e amizade…»
Nuno Espinal