É bem verdade que o vivido se apresenta à consagração da recordação. E que quando recordamos é como se estivéssemos a viver no presente o passado. Bem razão tem o provérbio de que “recordar é viver duas vezes”.
Gosto de recordar! E se recordo um passado bem longínquo é porque a cena vivida, o ato recordado, ou a narrativa de então, são acontecimentos que me foram especiais, mesmo que aparentemente vulgares.
E tantas as vezes que recordo tempos de uma outra Vila Cova!
Por exemplo, do começo do Café do Vasco…
Corriam os inícios da década de sessenta. Beber um copo, em Vila Cova, praticamente só de vinho, e pouco mais, nas três ou quatro tabernas que existiam. Claro, que era exíguo para os que nas férias vinham de Lisboa, com outros hábitos, em especial o da tradicional bica.
Um dia, no local onde o Vasco vertia uns copos de três, houve quem o instigasse: Oh Vasco arranja aí uma cafeteira, deita-lhe café, põe-na ao lume e serve aí umas chávenas ao pessoal. O meu tio António Fernandes foi um dos incitadores. O sabor lá agradou e criaram-se, desde aí clientes fiéis. A improvisada cafetaria ganhou fama. E no ano seguinte já o Vasco, entusiasmado com o êxito, investia no espaço e dava-lhe ingredientes dignos do nome de Café, inclusive a TV de um só canal (mais não havia) a preto e branco, lá no cume de uma prateleira, em alturas propícias à causa de uns bons torcicolos.
Que histórias vividas no Café do Vasco! Traquinices, tertúlias, coscuvilhices, cumplicidades.
Em outras novidades afoitas ao negócio, recordo-me do famoso “Gelado à Vasco”. Um cubo de água com alguma groselha, uma hora de frigorífico e aí estava o gelado. Depois, uma chupadela bastava e o que restava era água gelada. Valia por esse efémero gosto a groselha e principalmente pelas saborosas gargalhadas de ressaca. Também por cinco tostões!…
Um dia, com toda a sua bagagem, o Café mudou de sítio, numa andança de poucos metros, e instalou-se em novas vistas com o nome de “Mira Rio”. Lá foi cumprindo a sua função, até que se fartou. Vila Cova a perder gente e reflexos óbvios na escassez da clientela. Deixou, o negócio, de valer a pena e em resultado o encerramento do saudoso Café.
Mas ficará para a história de Vila Cova. O primeiro “Café” de Vila Cova.
Um abraço amigo Vasco.
Nuno Espinal