Um pouco por todo o país tem ocorrido a data dos “quinhentos anos” da atribuição de carta de foral pelo Rei Dom Manuel I.
Ora, diz-se foral, ou carta de foral, ao diploma que, desde o século XII, era concedido pelo rei, ou por um senhorio laico ou eclesiástico, a determinada terra, contendo normas que regulavam as relações dos seus povoadores ou habitantes entre si e destes com a entidade outorgante.
Ainda que inicialmente não se vislumbrassem grandes diferenças entre as cartas concedidas pelo rei e as outorgadas pelos senhores, fossem senhorios ou eclesiásticos, contudo, já nos séculos XIII e XIV, a concessão de foral pelo próprio rei pressupunha um ato libertador das populações relativamente às leis e justiça senhorial.
Entretanto, ao longo do século XV, o fortalecimento do poder real e das leis gerais conduziu ao declínio das instituições concelhias, o que provocou uma perda da anterior importância dos forais, ficando reduzidos a meras normas aplicadores de impostos.
É com a reforma de Dom Manuel I que os forais retornam a uma atualização dos privilégios e dos encargos das localidades. A reforma abrangeu 596 forais, os chamados “Forais Novos”, entre os quais se contam os de Vila Cova, Coja e Avô, que foram outorgados pelo Rei em 1514.
É nesta evocação histórica que, na nossa vizinha aldeia de Avô, foram comemorados os quinhentos anos da concessão à localidade do foral pelo nosso rei Dom Manuel I, o que originou um conjunto de manifestações de recriação da época, que ontem teve, num cortejo com dezenas de figurantes com trajes a dramatizarem costumes e usos de então, o ponto mais alto.
A evocação terminou com a população residente e muitos forasteiros a assistirem, no Largo do Pelourinho, à cerimónia que recriou a entrega do foral pelo rei Dom Manuel a autoridades da vila de Avô.
De facto, momentos vividos em Avô de grande significado histórico e, indiscutivelmente, promotores da identidade da povoação.
E em Vila Cova de Alva?
A primeira notícia que há conhecimento, sobre a aquisição de um foral, refere o que foi concedido pelo Bispo de Coimbra, D. Estêvão Anes Brochado, entre os anos de 1312 e 1314, foral este confirmado por D. João Galvão, Bispo de Coimbra, a 14 de Janeiro de 1471.
Coma a reforma que se batizou pelo seu próprio nome, Dom Manuel I confirmou de novo este foral, em 22 de Setembro de 1514.
Ora, estamos a pouco mais de um mês para os “500 anos” da atribuição do foral manuelino.
E fica a questão, formulada a quem de direito. Não está prevista nenhuma evocação, por muito simples que seja, desta data de tão grande valor histórico para Vila Cova de Alva?
Nuno Espinal