Ontem, domingo de Páscoa em Vila Cova, nos desenvolvimentos da Missa e Procissão, houve momentos que verdadeiramente tipificaram “tempos de hoje”, na conceção da imagem de uma adequada e renovada da Igreja. Os momentos foram protagonizados pelo Padre Rodolfo Leite, como principal interlocutor de um diálogo, que só na aparência se definiria como monólogo.
Passemos à concretização:
Em plena homilia, uma criança furta-se à guarda da mãe (o Guilherme) e não se inibe de uma correria no sobrado central da Igreja. Há quem intente um gesto de cobro à situação, quando o Padre Rodolfo logo intervém e diz: “Deixem-no estar! Tomem é atenção ao que eu digo. Sabem? As crianças reagem por mimetismo.
Alguns talvez não tenham entendido a expressão e terão surdamente equacionado: Mimetismo? Mas que é isso?
Padre Rodolfo percebendo-o, explica: “As crianças tendem a imitar os adultos, tomam os adultos como modelos. Se os adultos se comportam com gestos apalhaçados, amacacados, as crianças imitam-nos e fazem os mesmos gestos. Se os adultos demonstram uma atitude serena as crianças acabam por se induzir nessa atitude”.
E o garoto lá permanece numa ou outra correria, sem que perturbe o recato que a liturgia reclama.
Ainda no contexto da homilia, o Padre Rodolfo fala em minimalismo. De novo a perceção de alguma ignorância sobre a palavra. E a explicação vem logo a seguir: “Dou-vos um exemplo”, diz. “Minimalismo é assim como querer trabalhar pouco e querer ganhar muito”.
Estes flashes de discurso são elucidativos de uma atitude. É evidente que não retrato aqui aquilo que na pregação do Padre Rodolfo será a essência da religião. Mas falo apenas de um modo. O modo de uma prática que revela uma atitude. Atitude que cativa, que atrai. Decerto que, por isso, as manifestações religiosas em Vila Cova, nestes dias de Páscoa, tiveram a adesão de tantos populares.
Mas a atitude, no Padre Rodolfo, não é só a palavra, é também o gesto. Já terminada a Missa e quando se apronta a formatura da Procissão, o Padre Rodolfo toma a criança (o Guilherme) ao colo e quando nesse mesmo instante o enquadro na objetiva da câmara fotográfica, diz-me de imediato: Diga-me lá se não estou tal e qual o Santo António!
Os que o ouviram, garanto-vos, não evitaram o sorriso.
Já depois, no perímetro do Adro, o andor da Senhora da Alegria cumpria uma volta de trajeto. E raios me partam se não é que me pareceu que Nossa Senhora se sorria também?
Nuno Espinal