Tal como tínhamos referido, damos a conhecer um texto que, no dia 31 de Janeiro do ano de 1950, foi lido aos microfones da “Rádio Pólo Norte, Emissor da Beiras”, por meu tio António da Silva Fernandes, nessa altura aí locutor, texto escrito pelo Sr. Carlos Gabriel:
Rádio Pólo Norte, através do seu locutor, António da Silva Fernandes, vai dedicar parte do programa de hoje a uma encantadora terra do concelho de Arganil, a que muito justamente chamaram já a “Rainha do Alva”.
Desta vila escreveu alguém, que a morte já levou, as seguintes palavras:
“Se há terras portuguesas que encantam pela sua posição geográfica, entre colinas suaves e vegetação ridente, banhadas pela luz do sol e afagadas pelo ar forte e sadio, terras que prendem para sempre o pensamento e, por vezes, até o coração de quem as visita, Vila Cova de Alva é, sem favor uma delas.”
Pois é nesta linda terra, Jardim da Beira, à beira do Alva plantado, que hoje se realiza uma festa de confraternização entre os componentes da sua excelente banda de música.
Rádio Pólo Norte, o Emissor das Beiras, associando-se, de bom grado, a essa manifestação bairrista, dedica algumas marchas à Filarmónica Flor do Alva, ao mesmo tempo que indicará, em breves notas, alguns dos passos da sua triunfante careira artística.
Recuemos ao ano de 1918:
No dia 7 de Abril dirigem-se à vizinha povoação de Anseriz alguns Vilacovenses, a fim de convidar o Sr. António Alves da Neves para regente da filarmónica, que pretendiam organizar em Vila Cova de Alva. O convite foi aceite: inicia-se a aprendizagem e, no dia 23 de Junho desse mesmo ano, a Filarmónica apresenta-se em público pela primeira vez. E a sua carreira triunfal prossegue em maré alta de entusiasmo! Santa Comba Dão, Oliveira do Hospital, Arganil, Góis, para só falarmos das terras mais importantes da região. Sucedem-se os contratos e os seus acordes fazem-se ouvir em quase todas as terras desta enorme região das beiras, sempre com agrado geral.
É que a “Flor do Alva” primou sempre pela correção dos seus componentes, a maioria trabalhadores rurais, mas pessoas educadas.
1931: Em Janeiro deste ano é fundada a “Comissão da Iniciativa”, cujo objetivo era auxiliar a manutenção da Sociedade, promovendo subscrições e récitas. Constituíam-na os Srs. Carlos Gabriel Gonçalves e António Nunes Ferrão era seu delegado em Lisboa o Sr. António Jorge Leitão.
1935: Neste ano, teve a banda o seu primeiro estandarte. Já em 1930, o falecido capitão António Alves da Cruz, alvitrara a constituição de uma comissão de senhoras, para a colheita de donativos destinados à compra do estandarte. Mas as suas palavras não encontraram o acolhimento desejado. E só a tenacidade do Sr. António Jorge Leitão conseguiu fazer triunfar a ideia. Foi na noite de 12 de Setembro de 1933 que o estandarte foi entregue na “Casa de Ensaio”. A pequena festa, que terminou com a execução de uma marcha pela Banda, contribuiu imenso para que a colónia vilacovense da capital verificasse o entusiasmo que a iniciativa provocara em todas as pessoas que desde longa data vêm amparando a filarmónica.
1948, 28 de Maio: A Banda segue para Lisboa a fim de fim de abrilhantar a festa dos vilacovenses na Casa da Comarca de Arganil, que se realizou no dia seguinte. Pelo seu aprumo e pela maneira com executou a parte que lhe estava destinada ao inesquecível festival, alcançou um notável sucesso.
Dia 30: Passeio à Costa da Caparica.
Dia 31: Visita aos jornais “O Século” e “Diário de Notícias”.
A sua chegada a Vila Cova do Alva, que se verificou no dia 1 de Junho, teve foros de apoteose.
Setembro: Grandiosa festa regional promovida pela Banda, com o concurso das Filarmónicas do Barril de Alva e Avô. E homenagem prestada ao seu primeiro regente, Sr. António Alves e aos grandes beneméritos Srs. Adelino de Almeida Teixeira e António Madeira Leitão.
1950: E a marcha iniciada em 7 de Abril de 1918, segue a passo cadenciado o seu caminho.
E hoje, último dia do ano de 1950, ao realizar-se a festa de confraternização deste agrupamento de arte - festa que mais uma vez servirá para demonstrar o carinho que os vilacovenses dedicam a tão simpática agremiação, “Rádio Pólo Norte, o Emissor das Beiras”, aproveita o ensejo para saudar os seus brilhantes executantes, sócios, atual regente, Direção, delegação em Lisboa e todos aqueles que, de qualquer forma, têm auxiliado moral e materialmente a manutenção da Filarmónica “Flor do Alva”. E lembra também, saudosamente, a figura do grande benemérito, Sr. José Maria Madeira, um dos seus fundadores e que foi, até a morte o levar, seu diretor honorário.