Admiro o Papa Francisco. E, a reboque do período em que nos encontramos, também eu o elejo como personalidade do ano. Mas, corro um risco. Fora do contexto próprio, exponho-me à acusação de aproveitamento da figura do Papa, na propalação de ideias políticas. Mais até: De oportunismo. E ainda mais: De defesa de ideais políticos integrados nos cânones das esquerdas.
Mas, não é o caso. De resto, cada vez mais nos vamos convencendo de que o pensamento do Papa Francisco está acima do fato de ser de esquerda ou de direita.
O Papa Francisco é um cidadão do Mundo e, por ser Papa, um cidadão para o mundo. Quando fala no púlpito fá-lo “urbi et orbi”. E ei-lo recentemente a falar para milhares de peregrinos na Praça de S Pedro. Para milhares de peregrinos e para milhões de cidadãos de todo o mundo, através dos “média”, presentes em peso. Na oração do Ângelus, domingo passado, o Papa Francisco apelou ao respeito pelos mais velhos. Chamou-lhes “exilados escondidos”, aqueles exilados que podem existir dentro das próprias famílias, tratados como presenças que estorvam.
Se estes “exilados escondidos” têm este tratamento imerecido a nível de famílias, veja-se o que não será a nível da sociedade em geral.
Em livro há pouco lançado à venda, o Professor Adriano Moreira fala-nos de uma “geração grisalha”. E a páginas tantas refere: “Na cultura africana aprende-se que quando morre um velho desaparece uma biblioteca”.
Nesta asserção está contido um respeito enorme pelos mais velhos. A cultura ocidental teve-o como um dos seus valores. Nós, em Portugal, nos meios mais rurais especialmente, venerávamos os mais velhos com o sentimento desse valor. Respeitávamos-lhe a sabedoria. Até que o conhecimento emergente, enformado na ciência, na técnica e tecnologia, lhes subvalorizou esse saber maior, que na soma dos anos granjeava qualidade e posição.
Hoje, sem a afirmação de outros tempos, são postos à margem, como grupo permanecente numa espécie de antecâmara da morte. Para ali estão, depositados tantas vezes em asilos, que semanticamente, no dizer de Adriano Moreira, são apelidados de “lares”(1).
Retorno ao Papa Francisco. A sua mensagem correu Mundo. E com ela, uma vez mais, o apelo à consciência, à reflexão.
Mas, há que agir. E a ação tem de ser nossa, nós que fazemos parte desta grande multidão que pode ser o grande motor da história. E o grande “animus” residirá nos valores humanistas que também estão referenciados nas próprias raízes do cristianismo.
Bom Ano Amigos.
Nuno Espinal
1) Lares dos quais, felizmente, há os que humanamente cumprem. E honra seja feita aos que existem em localidades bem perto de nós.