Tempos houve em que a comunidade vilacovense extravasava os limites fronteiriços da localidade. Recordo que as comissões de melhoramentos, as ligas e as comissões de festas integravam vilacovenses (e não só de nascimento) residentes em outras localidades, maioritariamente de Lisboa.
Perdeu-se muito deste espírito. É verdade que ainda há quem, mesmo residindo extra muros e de condição “achadiça”, tenha por Vila Cova afetos e se predisponha a entregas das suas melhores disponibilidades em prol de benefícios da terra. Não serão muitos, mas ainda os há e nem sempre lhes é devido o meritório reconhecimento.
Mas, falemos de todos os outros que, de tempos a tempos, se instalam na “terra”, mesmo que por escassos dias. “Ainda bem que vêm”, reconhece a maior parte da população residente. “E que venham mais”, dizem muitos.
De facto é bom que assim seja. A vinda em visita de todos os que residem noutras paragens tem um significado muito especial. Vila Cova é um paradeiro que atrai visitantes por muitas virtudes e qualidades, nas quais sobressai, entre outras, a sua beleza natural. Esta razão é causa de um natural reforço da autoestima de quem sente Vila Cova e tem por Vila Cova um sentimento de pertença.
Assim sendo, Vila Cova, como espaço de usufruto, torna-se, por maioria de razões, espaço público, na aceção desta expressão na sua vertente social. Espaço lógico de partilha, que impõe a todos os que nela estão, e que dela usufruem, direitos e deveres, mesmo que de índole meramente moral.
Vem isto a propósito dos peditórios, que, de quando em quando, são feitos para organização de festas ou outras manifestações da terra. Peditórios que se dirigem também a todos os que eventualmente se encontrem, mesmo que por escassos dias, em Vila Cova.
É absolutamente normal que assim seja. Estamos no domínio da partilha e este facto por si só justifica o gesto.
Mas, amigos: Quem dá adquire, por mero contrato de cavalheiros, direitos. Dá porque o que lhe pedem contribui para determinado objetivo. O objetivo tem um custo, por isso é que lhe pedem. Ora, o objetivo só se concretiza com a soma de todas as dádivas.
Posto isto, em resultado da ética da partilha e da transparência, todos adquirem o direito de saber o que cada um dá, mesmo quando anonimamente, e o total quantitativo do que foi dado. Em termos correntes e para evitar mais delongas, chama-se a isto “prestar contas”.
E nesta prestação Vila Cova tem andado, nos últimos anos a "deixar muito a desejar". Para desencorajamento de todos os que dão e que, por desconfiança perante esta não transparência processual, passam a dar cada vez menos e a deixar mesmo de dar.
Nuno Espinal