Tarde de quarta-feira, esplanada em Coja.
Discute-se política e alvitra-se o conteúdo da decisão de Cavaco. Todos coincidentes: Cavaco vai dar aval à proposta de Governo de Passos.
E pronto! Leitores que somos de literaturas da política, ouvintes das “quadraturas de círculos” e quejandos, reforçados no veredicto das nossas formações académicas e ainda nas sabedorias colhidas em tertúlias fervilhantes de pseudo-intelecto, damo-nos como certos e infalíveis.
Alguém, aos poucos, se vai aproximando, ar patusco, um “cromo” do burgo.
“Eu bem ouvi o que os doutores estão aí a dizer. Mas estão enganados. O Cavaco vai dizer não ao Passos e ao Portas. Tenho a certeza. Vocês não o viram na Igreja dos Jerónimos? Eu bem o vi na televisão. Passou por eles e não lhes ligou nenhuma. Sabem o que isto quer dizer? É só isto. Vai-lhes dar a nega!”
Um de nós interrompe-lhe a tagarela:
Pronto, já deste a tua opinião, agora vai-te, se quiseres passa ao balcão e diz que tens uma cerveja paga. Vá lá, desaparece!
E lá se foi…
O gaijo é burro, não é de ligar, diz alguém.
No dia seguinte os mesmos, na mesma esplanada.
E o cromo, a passar, olhar de soslaio, sorriso de chacota, a dardejar:
Eu é que sou burro?
Desta vez fui eu que lhe paguei uma cerveja. E sentei-o à mesa.
Nuno Espinal