Estou em Vila Cova desde ontem, Domingo. Precavido dos tórridos calores que nos abrasam, tenho-me refugiado em casa.
De resto, a idade já me coíbe de eventuais veleidades de desprezo à canícula.
Confortado na fresquidão do interior das paredes (antigas) de pedra, recebi, hoje, a visita de uma funcionária do Centro de Dia que, no seu périplo de entrega dos almoços do “apoio domiciliário”, aproveitou o giro e trouxe-me uma papelada para assinar.
Quando lhe abri a porta senti um estrondoso e duplo baque pelo bafo infernal do exterior e pelo seu ar afogueadíssimo, como de alma penada. Pouco mais me disse que isto: Ui, que calor!
E lá se foi e eu, na fresquidão da casa, cá me fiquei. Mas dei por mim a pensar: Uma profissão que não é fácil e um ordenado mínimo em retribuição.
Sim, já sei! Quantos, no contexto atual, não desejariam estar no lugar dela, quantos não desejariam, apesar de tudo, esta profissão!
É verdade. Mas, também é verdade que muitos, por pouco mais ou até por quase nada, recebem chorudos e apetrechados euros.
E os que recebem milhões em provados crimes de corrupção? Sim, claro, todos pensamos no caso” BPN”. E não só, é bem de ver.
E ei-los a banharem-se em águas de locais paradisíacos, com negócios frutuosos em Cabo Verde e outras paragens.
Hoje um ex-ministro chinês foi condenado à morte, por ter desviado, nas suas funções governativas, cerca de oito milhões de euros.
Não sou pela pena de morte acreditem. É um princípio para mim capital. E mais: Na minha ideologia o princípio é, impreterivelmente, irrevogável. Irrevogável mesmo!
Mas, permitam-me o contradito: Do chinês não tenho pena! Ainda que reconheça o azar que o homem teve. Mesmo um grande azar: Não ter sido ministro em Portugal!
A esta hora, porventura, estaria no Brasil, apetrechado de atrativos dólares e ostentando, entre dedos, um cubaníssimo charuto, enquanto outros dedos viajariam nos espaços ondulantes de um escultural corpo, propriedade de uma “ boazona” fêmea.
Nuno Espinal