A pretensa unidade da Europa tem sido forjada, em quase exclusividade, na vertente económica. Para ser mais do que isso, e a Europa tender a um modelo de comunidade, os vários Estados que a compõem teriam de, à partida, estar em estatuto de plena igualdade política, sem hierarquias de poder, que submetem as soberanias de uns Estados relativamente a outros.
Mas há mais. Para que a comunidade possa alguma vez emergir e afirmar-se em toda a sua plenitude enquanto tal, os povos que a compõem terão de estar fidelizados a uma ideia de pertença comum.
“Sou europeu, porque me sinto europeu, porque me sinto irmanado com todos os outros povos europeus, num espaço delimitado que se chama Europa”.
Mas, não é isto que acontece. Quanto estrangeiro me sinto numa Alemanha, quanto estranho me sinto com um alemão, um sueco, um norueguês e tantos outros por esta Europa fora.
Claro, há em tudo isto uma razão de passado histórico e cultural. Razão esta que me aproxima de outros, que nem europeus são.
Ainda ontem me dei a pensar, no recinto do Festival de Verão aqui em Coimbra, que o programa apresentado faz uma síntese do que aqui estou a apregoar.
Sons ibéricos, galegos e andaluzes, fado de Coimbra e de Lisboa, mornas e coladeras de Cabo Verde, merengues de Angola, sons do Brasil.
Nesta comunidade sinto a minha pertença, o meu envolvimento. Eu e muitos mais.
Nuno Espinal