Um edifício de uns 20 andares e no rés-do-chão, no átrio, um aglomerado de gente pronta à boleia do elevador. De entre nós, sobressai um fulaninho, trejeitos amaricados, vozinha de falsete, gestos ondulantes a condizerem. Com ele uma jovem, linda de morrer. Falam um com o outro, vim a perceber que são colegas da empresa que, por acaso, é a razão da minha deslocação ali.
A empresa ocupa, no edifício, os andares 15 a 18.
O ascensor arranca e vai parando em todos os andares. Os dois conversam, com alguma familiaridade. A certa altura ouço da jovem:
“Está quietinho com as mãos Luisinho. Para a próxima levas um estaladão!...”
Di-lo baixo, quase ao ouvido do outro, com voz danada. Só que, por mais que o não quisesse, face à proximidade, não pude evitar de ter capatado tão raivosa ameaça.
Ele apercebe-se de tal, olha-me de modo encavacado e comprometido.
A jovem, entretanto, sai num piso imediatamente inferior ao que era meu destino. Comigo, no piso logo a seguir, sai o tal Luisinho e mais ninguém.
E o Luisinho, ainda embaraçado e todo serpenteante, resolve atirar-me esta:
“Aquela miúda é tão boa que eu até me esqueço que sou maricas…”
Dá uma gargalhada toda estridente e lá toma o seu caminho.
E eu, porra, não é que me ri também?
Nuno Espinal