Chamavam-lhe o Pingalim. O porquê da alcunha não o sei. Nem tão pouco lhe sei o nome, o verdadeiro. O que sei é que sempre que dele falavam era por Pingalim que o tratavam. E pronto! É assim que para esta historia fica: o Pingalim.
Lembro-me muito vagamente do Pingalim. Mas, ainda assim, recordo-lhe bem a figura, a figura grotesca, ampliada por uma gaguez que o caricaturava nas jucosas zombarias. E depois, para mais, aquela dislaxia, aquele falar tão burlesco. Cão era ão, casa era asa, coisa era oisa e por aí fora.
Partilhava a pobreza, a muita pobreza, com a Rosa, a “Ti” Rosa, companheira de tantos anos e de sempre.
Gostava, e bem, do seu copo, e naqueles tempos, homem que fosse, quem não gostava?
Pois um dia o nosso bom Pingalim, em cavaqueira de taberna, já um tanto entornado, tornou-se vulnerável à esparrela da chacota.
E já o tempo caminhava com umas boas rodadas de copos de três quando há um que lhe atira:
-“ Oh Pingalim, estás a ficar abrasado. Logo à noite com a Rosa aquilo é que vai ser!…”
E o Pingalim, copo ao alto, logo lhe responde:
-“Isso eria eu. Mas a mi ...a minha Rosa já não tem...a…a… alôr…”
Nuno Espinal