A Fonte dos Passarinhos é uma verdadeira referência e até ex-libris de Vila Cova. Lugar empático dos vilacovenses, é itinerário imprescindível para quem a nossa Vila Cova visita. E de tão repetidamente visitado, em especial pelo vislumbre da paisagem, pela frescura das suas sombras e leveza a sua água, é um lugar de recordações de imagens, de afetos e até de "amores".
O que poucos saberão é da origem daquele tão aprazível recanto.
Pois bem! É precisamente sobre o surgimento da Fonte dos Passarinhos que vamos transcrever dois deliciosos apontamentos, publicados em datas muito próximas na Comarca de Arganil. Corria o ano de 1924. Nesse ano, pela lei nº 1639 de 25 de Julho, a povoação do Barril era desanexada da freguesia de Vila Cova que, por sua vez, deixava de ser de Sub-Avô para passar a denominar-se de Alva.
Eis os “escritos” da Comarca, o primeiro, de um correspondente do Sarzedo, (presumimos que o nome era Zé Pereira) publicado em 18 de Setembro daquele ano de 1924:
"Lembrem-se todos desta verdade: “Nosso Senhor nunca criou quem desamparasse”. Como sabem o Barril desprendeu-se, há pouco, de Vila Cova, constituindo uma freguesia à parte. Querem saber como o Divino Pai do Céu recompensou a povoação de Vila Cova do prejuízo sofrido? Num destes dias fez-lhe “arrebentar” mesmo junto da povoação, uma nascente d’água pura, fresca, cristalina, que causou a alegria e a admiração de toda aquela gente, que há tanto tempo anda a pedir uma fonte, sem ninguém a ouvir. Olhem que isto não é pêta: ouvimo-lo a pessoas que nos merecem confiança. Ora, quem neste tempo dá água e água boa…já é amigo a valer. Se há povoações que estão na graça de Deus, Vila Cova é uma delas. Não “arrebentar” assim uma fonte no Sarzedo meninos! Nós já não queríamos que fosse mesmo junto da povoação: bastava que ela “arrebentasse” ali para o cimo do Estragado, que todos nós lá íamos buscá-la.
Uma nascente d’água fresca nesta altura! É a felicidade da terra! Parabéns, santa gente de Vila Cova! Muitos parabéns!"
Ora, na Comarca seguinte escrevia assim o correspondente (o apontamento não está assinado) de Vila Cova:
Costuma dizer-se que “santos do pé da porta não fazem milagres” e é bem verdade. Leram a correspondência do Sarzedo datada de 18 do corrente que dizia que a nossa fonte tinha “arrebentado”? Pois é verdade, “arrebentou” e muito bem, principalmente nesta época, em que todos aqui estávamos lutando com tanta falta d’água. Podemos todos levantar muitas vezes as mãos ao Redentor pela grande graça que nos concedeu. Tomara o ilustre Zé Pereira que lá no seu Sarzedo lhe aparecesse uma “buraquinha” como a que nós agora temos ali. Aí não brinca. E muito obrigadinho pelos justificados parabéns que nos deu, sim? A água é puríssima, fresquinha e em abundância. As donas de casa andam contentíssimas por já terem água para gastos das suas casas. E o caso é para isso. A nossa nova fonte é junto da serventia da Datão e já a crismaram uns de Fonte dos Passarinhos, outros de Fonte da Telha e outros de Fonte dos Amores.
Nuno Espinal