O Henrique Gabriel, em comentário ao “post” do Miradouro sobre o desaparecimento das relíquias dos Santos Mártires Abdon e Senen, refere com toda a argúcia:
“Seria interessante saber quando foram vistas pela ultima vez...Não nos esqueçamos que uma das práticas dos franceses durante as invasões foi a pilhagem das igrejas com destruição de estatuaria e reliquias! ...e eles "andarem" por lá!”
De facto, aquando da terceira invasão francesa e já com os franceses em fuga, Vila Cova foi selvaticamente agredida pelo exército inimigo, conforme se pode apreender de apontamento que publicamos, o qual existe documentalmente no Arquivo Distrital da Universidade de Coimbra
“Decorria o dia “15 de Março de 1811”, pela tardinha, quando irromperam os franceses, vindos do Barril, pela Vila. Chegando a ser 3000 homens, acamparam nas vizinhanças da Vila, até ao dia 19 de Março, na expectativa da aproximação do exército português, de que andavam em fuga.
Enquanto cá se mantiveram os franceses quebraram, arrombaram, foram ás adegas e tulhas que automaticamente despejaram; saquearam casas e incendiaram-nas. Foram queimadas 11 casas. Roubaram milho, vinho, azeite e trigo; e da Igreja Matriz fizeram celeiro onde juntavam tudo que tinham saqueado, até as cortinas das igrejas utilizaram para as camas.
Roubaram frontais, rasgaram cortinas, véus, queimaram bancos, arcas, estantes e varas do palio, rasgaram os missais, quebraram duas cruzes do altar e roubaram também as imagens.”
Na casa da Misericórdia quebraram 3 pedras de “aras”, roubaram 3 Albos, cordões, duas estolas de Damasco e muitas outras coisas.
No Convento de Sto. António levaram vinho, milho, carne de porco e quebraram a louça. A Sacristia foi toda saqueada e levaram o Santo Lenho, muitas mais relíquias e várias imagens.
Mataram nesta freguesia 15 pessoas utilizando os processos mais cruéis nos assassinatos que perpetraram.”
O texto refere, de facto, “saque de relíquias”. Mas, pela importância que revestiam as relíquias dos Santos Abdon e Senen, se estas tivessem sido furtadas pelos franceses o texto, estamos em crer, teria destacado o seu roubo.
Claro, estamos em mera especulação e daí, por mais possibilidades que possamos considerar, a única evidência atual é a do mistério, que infelizmente teimará em persistir, do desaparecimento das relíquias.
Por isso repetimos a pergunta anteriormente lançada no Miradouro:
Será que alguém nos poderá sugerir um qualquer indício, que leva à possibilidade de podermos alimentar a esperança de este enigma ser desvendado?
Nuno Espinal