Aplaudi e regozijei-me com a decisão de ao Fado de Lisboa ser atribuída a classificação de “Património Imaterial da Humanidade”. Mas, passado esse primeiro momento, dei-me por mim confrontado com declarações de pretensos arautos do Fado de Lisboa, ufanos de uma vitória para que muito pouco ou nada terão contribuído, manifestos imperialistas na afirmação de ser aquele género musical uma realidade única e superior em Portugal da cultura musical de expressão popular, omitindo e desprezando uma outra realidade, entre outras de expressão etno, como é a do Fado de Coimbra.
A propósito, li no Diário das Beiras de 29 de Novembro, um artigo de Virgílio Caseiro intitulado “E o Fado de Coimbra?”, do qual respigo, pela sua acutilância, as seguintes passagens:
/…/ Mais uma vez, aliás como sempre, Lisboa vai-se construindo, tirando partido de ser a sede do poder político, recorrendo a este facto para liderar movimentos, benefícios, projectos, decisões!”/…/
/…/Musicalmente a canção de Coimbra nada fica a dever ao fado lisboeta, quer estejamos a falar de riqueza melódica, harmónica, tímbrica, formal ou estilística. Por outro lado sempre se sentiu envolvida por outras caracterizações tradicionais específicas que a valorizam e caracterizam, como seja a especificidade da guitarra utilizada, o uso prioritário da capa académica, a riqueza de imemoráveis tempos, de uma componente literária evidente e ainda da salvaguarda de diferentes formas temáticas, separadas, mas todas incluídas num só todo e numa única personalização (Fado, Balada, Trova, Variação…)/…/
Nuno Espinal