Em vida, quantos de nós não congemina o desejo (ténue que seja ou aparentemente adormecido no subconsciente) de ser recordado após a morte?
Mesmo que essa recordação não perdure senão nos anos imediatamente próximos à nossa morte, já que raros são os que da lei da morte se libertam, no magistral dizer de Camões.
Não quero flores, nem velas. Quero é que me recordem com saudade… – ouvi de um ancião.
Um folclore crescente contraria este desejo. Nestes dias, envolventes do 2 de Novembro, velas e mais velas, flores e mais flores. Comércio, materialismo contra dizente do significado originário da comemoração.
É certo que no mero gesto do apor de uma flor, ou de uma vela, há uma evocação do ente ou amigo que já partiram. Mas é um gesto que evoca a morte.
Então, antes evocar da morte a vida. Na memória com que os recordamos, de momentos, do que nos deixaram da vida.
Recordá-los, pois, para nós e com os outros.
Nuno Espinal