
Era linda de morrer. Morena, cabelos pretos luzentes, olhos de sonho, um corpo de harmonia sensual. Foi-me apresentada por um amigo de ambos, conversámos, culta, desinibida, adversa a preconceitos, discurso fluente, cativante. Chamava-se Joana, deixou-me siderado.
Um belo dia, um domingo de Agosto, percorria, em corrida moderada, como prática desportiva que me era usual, as areias molhadas da maré baixa das praias que se estendiam entre a Fonte da Telha e o Meco. Uma hora de corrida para lá, outra para cá. Entre as várias praias que se sucediam, aqui e ali pequenas bolsas de locais, particularmente acordados, disponibilizados a nudistas. Como as minhas corridas eram efetuadas cedo, raramente encontrava alguém nesses recônditos lugares dos “pelotas”, como havia quem lhes chamasse.
Só que nesse domingo, precisamente numa dessas praias de nudistas, uma voz me chamou: Nuno, Nuno! Olhei, vi dois vultos, um homem, uma mulher. Caminhei ao encontro. Quem me chamava era o tal amigo. Ela era a Joana. Meu Deus, a Joana, ali toda em pelo, corpo escultural, linda, como sempre, a sacar da apatia o mais frio dos mortais! Continuei a aproximar-me, primeiro sem pinga de sangue, depois com calores, a reforçarem-me os da corrida, a tremelicar, sem jeito na pose. Todo atordoado, e de tal modo atordoado que, logo que ao pé deles cheguei, eu, do reino dos costumes e macholas latinos, dei dois beijos ao amigo e um cumprimento à Joana.
Hoje o amigo e a Joana estão casados. Foram pais e estão prestes a ser avós. Ainda recordamos esta história e, como sempre, com uma apetecida gargalhada.
Nuno Espinal