A morte de Artur Agostinho foi sentida em todo o país, em especial pela população mais veterana, admiradora e fã de um dos maiores comunicadores do país. Tive o grande prazer de ter convivido com Artur Agostinho, em três momentos ligados a uma entrevista que lhe fiz para a revista “Espaço Aberto”. O primeiro momento liga-se à apresentação que me fizeram a Artur Agostinho e em que combinámos o dia e hora da entrevista. De uma abertura repleta de simpatia, mostrou-se de uma disponibilidade e cooperação que desde logo me sensibilizou. Depois foi a entrevista. Por fim um jantar, em que esteve presente o próprio director à data da revista, que comigo surge na foto no já extinto restaurante “adivinha quem vem jantar”.
Aí passámos seguramente umas três horas de um convívio folgazão graças à jovialidade e humor de Artur Agostinho. Contou muitas histórias ligadas à sua vida profissional, a grande maioria cheias de uma graça reforçada pela sua tão famosa expressividade.
Recordo uma delas:
No Terreiro do Paço, em Lisboa, uma grande manifestação a Salazar em plena guerra colonial. O regime não poupou “escudos” e esforços para trazer uma multidão a Lisboa, vinda dos mais recônditos lugarejos. Artur, em reportagem em directo para a RTP, ia entrevistando um ou outro, preparando o ambiente televisivo que antecederia a chegada de Salazar à tribuna para o triunfal discurso,
-Então, diga-me lá, está aqui em Lisboa com que intuito?
As respostas, como é óbvio, iam todas no mesmo sentido:
-“Vim afirmar a minha solidariedade a Salazar.
-“Estou aqui para me manifestar a favor da política do nosso Presidente do Conselho”
-“Sou dos que quer mostrar ao mundo o quanto queremos a Salazar”
-E a senhora, diga-me lá, vem de onde e está aqui para quê?
-Eu? Eu sou de uma terrinha lá de cima de Trás os Montes. O que é que vim cá fazer? Então vim bater palmas ao …Baltazar”.
Obrigado Artur. Como ele próprio gostava que dele dissessem, era mesmo um “gajo porreiro”. Muito “porreiro”.
Nuno Espinal