publicado por Miradouro de Vila Cova | Quinta-feira, 15 Julho , 2010, 09:00

Em pleno Julho, corriam as “férias grandes”. Naquele dia, já no cair da tarde, a “malta” estava ali toda, na zona do café do Vasco. Ela também, o enamoramento em crescendo, trocas prolongadas de olhares, mas…

A coragem para a declaração, isso é que não atava nem desatava. Raios partam esta tacanhez! Bem utilizava os processos todos de sedução, típicos dos meus catorze anos. Bealcream no cabelo, camisas atadas na cintura, golas levantadas à St. Tropez, popa à Elvis, enfim, todos os tiques da moda. Mas, a declaração que se impunha, a estocada final, aí é que me faltava a coragem.

De repente, ali mesmo a jeito, uma velha bicicleta. Oportunidade de ouro para lhe mostrar mais uma habilidade. Conhecia o dono da "pasteleira".

-“Posso dar uma volta?”

- “Vá lá mas tenha cuidado, olhe que só agora é que aprendeu a andar…”

Qual quê? Sentia-me o maior, um verdadeiro ás do “tour”. Dei umas pedaladas até às tílias, fiz inversão, de quando em quando pé no chão, mais umas pedaladas, passei frente à malta, tudo a correr em grande e ela a ver. Ah, grande jogada esta, sentia-me a ganhar mais uns pontos, a paixão dela ia recrudescer. Continuei a marcha, nova inversão, aproximei-me de novo da malta, a famosa curva ao café do Vasco e…

Inesperadamente surge-me em sentido contrário um carro de bois. Oh raio, qual curva qual quê! Fui a direito, atrapalhei-me, bicicleta aos esses, o “Ti” Augusto russo com a vara dos bois em riste, e pumba! Nunca vi um corno de bois tão perto dos olhos. Eu e bicicleta no chão, só a canga me fez parar.

A malta a rir a bandeiras despregadas, grande humilhação a minha, e já sentia todo o processo de enamoramento a tornar à estaca zero.

Foi então que ela, quase logo a seguir, surge com algodão, álcool e mercuriocromo. Com todo o cuidado e doçura desinfectou as feridas. Ardor? Ardor e muito, mas não dos arranhões mas sim do coração. De tal modo que ganhei toda a coragem do mundo e lhe disse:

-Sabes que gosto muito de ti!

-Eu também gosto muito de ti, respondeu-me.

Ah, bendito trambolhão!

 

Nuno Espinal

(Foto de 1960, quando tinha 14 anos)


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