Há momentos, de um passado já de anos, que recordo com um afincado sentimento de veneração, como o da chegada diária da minha professora à escola, em Vila Cova. Refiro-me à saudosa professora Dª Anita.
Frequentei, então, as 3ª e 4ª classes, nos anos cinquenta e quatro e cinquenta e cinco.
De manhã, já perto das nove, mal avistávamos a professora ao chafariz de São Sebastião, formávamos duas filas, à entrada da porta da escola, uma de rapazes, outra de raparigas e aguardávamos a sua chegada.
Já com a professora entre alas, todos lhe dirigíamos um “bom dia senhora professora”, acompanhado de um movimento circular de saudação com o braço, ao que a Dª Anita nos respondia: “bom dia meninos”.
Era assim todos os dias. Um ritual de respeito antes do início da aula, prenúncio de regras e disciplina.
Passaram os anos. Em 76, uma amiga minha, debutante na docência em Lisboa, gabava-se dos seus métodos liberais e do relacionamento de igualdade que estabelecia com alunos.
“Se eu os trato por tu eles que me tratem também por tu”, apregoava a quem a quisesse ouvir.
Anteontem encontrei-a em Coimbra. Há anos que a não via. Que baque! Velha, gasta, um farrapo. De baixa por doença, deixou por uns tempos a leccionação de uma escola nos subúrbios de Lisboa.
“Ando em tratamento psiquiátrico. Não aguentava mais. Alunos insuportáveis. Falta de respeito, desobedientes, malcriados, intratáveis…”
Foram-se as suas tão progressistas liberalidades. Afinal o respeitinho, mesmo o respeitinho moda antiga, sempre foi, ainda é, e sempre será uma coisa muito bonita…
Nuno Espinal