Não gosto de touradas e, porque não sou masoquista, não lhes sou consumidor. Ontem, num “zapping” pelas têvês portuguesas, verifiquei que um dos canais transmitia uma tourada. Quando assim é não hesito e pratico o “toca e foge”. Só que desta vez não fugi. Mantive o canal. E a razão é bem simples. Na faena, que percebi depois ser transmitida do Campo Pequeno, a pequena orquestra tocava um passe doble que me era familiar e do meu eterno álbum das recordações. O passe doble “Manuel dos Santos”. Tão velhinho, com mais de cinquenta anos, aprendi-o com a “Flor do Alva”. Cantarolei-o todo, aquilo ainda durou alguns minutos, emocionei-me mesmo. O toureiro deambulava algumas figuras da dita arte de que é mister e eu fechei os olhos. O passe doble nos ouvidos, no meu cantar e a memória a desfilar gente, muita gente, a filarmónica no coreto, alguns pares a bailar, a festa.
Depois a música parou. Ouço aplausos. E lá estão os músicos da Flor do Alva, de pé, a agradecer.
Nuno Espinal