Morreu o Tino. Visitei-o há dias em Coimbra, no Hospital, entregue ao seu silêncio, um silêncio triste. E disse:
-“Já não volto vivo à minha terra…”
-“Qual quê?!... Há-de melhorar, daqui a uns dias já lá está…”
-“Tou, tou…mas n’um caixão…”
E mais não disse. Voltou ao silêncio, um silêncio triste.
Cumpriu-se a profecia!
Passou pela vida sem grandes rasgos. Mas, com essa tamanha magnitude de quem nunca causou danos, maleficências. Era uma figura castiça, realçada pelo tartamudeio que se conhecia no falar. Das memórias que nos deixa, conheço-lhe esta história, carregada de graça.
Um dia o Sr. Bernardo de Figueiredo, do Convento, que tinha como hábito professar alguns ensinamentos, aproveitou um grupo de homens, dos que nas suas fazendas trabalhavam, e testou-os com esta pergunta. “Sabem que a Terra anda?” Passava o Tino, “Mete Mete” de alcunha, com uma cesta de terra às costas, que levava para um canteiro, e, ao desafio da pergunta, logo atalhou, na sua inconfundível gaguez: “Que…qu’a Té…Terra an…anda? Ai anda, anda…que…que…quand’a… lé…lev’ às costas an…anda mesmo.
Adeus Tino, obrigado, até sempre!
Nuno Espinal