publicado por Miradouro de Vila Cova | Sexta-feira, 22 Janeiro , 2010, 14:47

Por Quim Espiñal

Nas conversas que mantemos no seio familiar, deambula-se por vezes para histórias e factos relacionados com o fantástico, ocorrendo-nos à memória episódios distantes de experiências vividas. Uns mais sérios do que outros, o facto é que a imaginação sempre tem tendência a sobrevalorizar as circunstâncias, dando ao narrador o ar de pessoa que passou por experiências terríficas. Numa dessas conversas que surgiu após um jantar com meus filhos, seus cônjuges e netos, contaram-se histórias de que ouvimos falar, todas elas eivadas de profundo mistério e apelo ao Extraordinário e ao Além. Resvalando os relatos para um clima assustador e achando que as coisas estavam a enveredar pelo tenebroso, lembrei-me de relatar um episódio ocorrido em Vila Cova e que foi protagonizado por mim, meu irmão e meu primo Jorge Augusto. Entra ainda nesta história o Sr. Fernando Gabriel, vulgo, então, “Fernando da Loja”.

Os mais velhos decerto se lembram dos célebres Loureiros de Vila Cova, aquele abundante arvoredo sobranceiro à estrada, junto às escadas da Igreja do Convento.

Pois contava-se que aí, em noites de profunda escuridão, logo de Lua Nova, apareciam almas penadas que atormentavam quem ali passasse a altas horas da noite. Criava-se, portanto, em torno dos Loureiros, um clima misterioso e assustador, ainda mais reforçado pela fraca iluminação pública que, há cerca de 50 anos, era apanágio das aldeias de todo o Portugal. O pequeno pedaço de estrada abraçado pela densa vegetação dos frondosos Loureiros e pela profunda escuridão que encerrava, era de facto propício às narrações que os mais velhos nos passavam.

Certa noite, após os nossos passeios nocturnos, estrada abaixo, estrada acima, entre o Barranco e a casa da D. Amélia, que caracterizavam os finais do dia da malta que ali passava as férias de Verão, regressávamos nós a casa vindos das Tílias ou do Café do Vasco, eis senão quando, ao passarmos nos Loureiros, já para lá da meia-noite, nos surge ao caminho um vulto aterrador que, aos uivos, nos queria barrar a passagem. Pernas para que vos quero, em breves segundos nos pusemos no chafariz de S. Sebastião, mal refeitos do susto e das maléficas intenções da alma penada que nos saíra ao caminho. A nossa imaginação juvenil teimava em dizer-nos que algo do outro mundo nos tinha tentado assombrar e que só a nossa boa presença de espírito nos salvara de males que nem queríamos imaginar. O episódio daria pano para mangas se não tivesse sido logo deslindado pela manhã pelo Fernando da Loja. Este bom homem, vendo-nos aproximar dos Loureiros e aproveitando a escuridão envolvente, escondera-se nas escadas da Igreja do Convento sem que nos apercebêssemos e, à nossa passagem, pregara-nos aquele valente susto. E ria-se a bandeiras despregadas, narrando com laivos de orgulho o medo que nos pregara.

Um abraço a todos.

Quim Espiñal

 


comentários recentes
Mais um homem bom que nos deixa. Há tempo que não ...
A perda de um amigo e a amigo da minha família, de...
Publiquei um comentário sobre o meu tio Zé, não ch...
Tio Zé Torda , descanse em paz e que DEUS o pon...
Tio Zé Torda, descanse em paz e que Deus o ponh...
Caro Dr. NunoFoi sem dúvida uma tarde e uma noite...
Sinceros sentimentos pelo falecimento do Tó Man...
Não foi de Covid
DISTÂNCIA/SEPARATISMO DOS PARASITAS-HORRORIZADOS c...
Foi de Covid-19?
Janeiro 2010
D
S
T
Q
Q
S
S

1
2

3
4
5
6
7
8
9

11
16

19




pesquisar neste blog
 
subscrever feeds