Se me dessem a observar estas fotos, sem delas possuir quaisquer informações, nunca imaginaria que respeitavam a crianças de Vila Cova. Mas há um dado que é tributário para a identificação das imagens: As datas das suas captações. Sabidas estas, desvanecem-se, algumas, possíveis incredulidades.
Ora, no período em que as fotos foram tiradas, nos inícios da década de oitenta, ainda Vila Cova não estava marcada pelo êxodo demográfico que viria a ocorrer em período subsequente. O número de crianças, que então frequentavam a escola, andava em torno de quarenta, com predomínio de raparigas.
Por outro lado, vivia-se ainda, nesta altura, o frenesim, saudável no meu entender, do pós 25 de Abril.
Havia crença, havia vontade, havia motivação, não estavam ainda diluídos os resquícios de toda a explosão popular vivida com o 25 de Abril. O experimentalismo das coisas, já sem o cutelo da opressão, da censura supra institucional do antigo regime, era vivido, quantas vezes, com a criatividade expandida, depois de tantos anos tão reprimida.
O grupo artístico de crianças de Vila Cova é bem sintomático do fervilhar desse período. O empenho, dedicação, criatividade e percepção pedagógica da professora (Dª Georgina Fânzeres) foram, todos o reconhecem, impulsor indispensável.
Depois, muito se alterou. Ano a ano, ocorreu o êxodo populacional. Crianças, hoje, são poucas, sente-se a falta da sua vozearia, da sua alegria. Entretanto, foi-se perdendo espontaneidade, a vontade colectiva de fazer coisas, o sentimento colectivo de então.
Em contrapartida,organizam-se, em partidos políticos, nos dois principais partidos, grupos de interesses, de gente que se instala, domina e divide. O que neste momento é regra (com excepções, como sempre) é o que se sabe. Os interesses de grupos, de partidos, a preferirem os interesses das populações, os das terras.
Nuno Espinal
Fotos enviadas por Ercília Oliveira