Surgiam as primeiras chuvas e trovadas, os dias ficavam sombrios, Setembro já caminhava para os últimos dias, as férias escolares estavam no fim.
Invariavelmente, ano a ano, tudo a repetir-se. Com as férias, já longas, eram fatais os pares de namorados, consolidados na libido dos nossos jovens anos.
As tardes e noites chuvosas impunham convívios caseiros, em conversatas, jogos de cartas e, por vezes, em bailaricos. Recordo, nessas ocasiões, uma cançoneta francesa que nos era mágica: Derniers Baisers. Lembram-se?: Quand vien la fin de lété…
E como a expressávamos! Colávamos os corpos amantes, mãos apertadas, respirações a ofegarem, o beijo consagrador.
Nas árvores desenhávamos corações, os nossos nomes, os nomes delas. E nesta poesia da idade chegavam as horas das partidas. E que despedidas! Olhos nos olhos, longamente, juras de amor eterno, lágrimas até.
Também eu fui tocado por estas garras do cupido. Ela partiu, era manhã. Lágrimas recíprocas, claro. Depois poemas de amor. Escrevi-os arrebatadamente. Chegou a hora do almoço. A comoção permanecia. Não me contive. Lágrimas, mais lágrimas, já de saudade. Mas, oh ironia do destino! Essas lágrimas tão poéticas a caírem numa tão prosaica chispalhada de porco!
Nuno Espinal